segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

...O Carnaval é mais antigo que o samba?











por Leandro Narloch

Eles parecem ter sido feitos um para o outro, mas têm quase 2 mil anos de diferença de idade. O Carnaval nasceu na Roma antiga, passou firme pela Idade Média e, no Brasil, no século 18, já era uma festa popular importante, mas a primeira marchinha só apareceu em 1899, e o primeiro samba é só de 1916. Durante o tempo em que a festa e a música viveram separados, o Carnaval brasileiro dançou no ritmo de batuques, valsas, polcas e até sem música alguma. Os primeiros carnavais por aqui, chamados de entrudos, eram assim, um pouco mais que um empurra-empurra que, durante quatro dias, espalhava pelas ruas xingamentos, correrias, perseguições, água, farinha, ovos podres, fuligem, lama e piche. A arma mais comum de quem “entrudava” era o limão-de-cheiro, uma bola de cera do tamanho de uma laranja cheia de perfume ou mesmo água suja. A violência dos foliões, a maioria escravos ou negros livres, era tanta que fazia muitos brancos sair da cidade ou se refugiar nos bailes de salão.

Marchinhas com letra e melodia surgiram com a compositora Chiquinha Gonzaga, autora de “Ó Abre Alas”, em 1899. Já o samba “Pelo Telefone”, de Donga, estourou logo que foi criado, em 1916, e foi “estandarte de ouro” do ano seguinte.



...Pular Carnaval dava cadeia até a década de 30?
Ir a um baile de máscaras no século 19 era arriscado. Usá-las na rua, por exemplo, significava uma noite na cadeia. O mesmo ocorria com quem exagerasse nos gritos, travessuras e guerras de objetos nas ruas. Além disso, a polícia não via com bons olhos o desperdício de água. Resultado: cana. O Carnaval só ganhou crédito quando Getúlio Vargas, no auge do populismo, adotou o samba (e as marchinhas) como música oficial do Brasil.

Já os lança-perfumes fizeram o caminho inverso. Vendidos livremente, os “lanças” eram a marca dos carnavais até 1961, quando foram proibidos.


Confete e serpentina
• Dom Pedro I também participava das festas. Ele gostava de atirar coisas nos outros, mas não de ser atingido. Em 1825, a atriz Estela Sezefredo foi presa por acertar-lhe um limão-de-cheiro na testa.

• Já no século 19, os foliões usavam máscaras em referência às autoridades da época, como dom Pedro II, Antônio Conselheiro e até príncipes africanos.

• Quem andasse arrumadinho pelo centro de Rio durante o Carnaval poderia ter a cartola “afundada” contra a cabeça. Em 1887, para pôr um fim na ”batalha da cartola”, o próprio chefe de polícia resolveu passar o Carnaval encartolado. Levou uma senhora “afundada”.

• O sapateiro José Nogueira de Azevedo Paredes criou, em 1850, a versão mais rudimentar do trio elétrico, um desfile de bumbos que seguia os foliões. Em homenagem a ele, esse cortejo foi apelidado de zé-pereira.

• A primeira escola de samba, a Deixa Falar, surgiu em 1928. Quatro anos depois, o primeiro concurso de escolas de samba do Rio de Janeiro foi criado pelo jornalista Mário Filho, o irmão do escritor Nelson Rodrigues que deu nome ao estádio do Maracanã.

• Na década de 50, o público carioca costumava alugar caixotes a 5 cruzeiros para ver as escolas na rua. O Sambódromo só seria construído em 1980.

• No Carnaval de 1961, as escolas de samba bailaram paradas. Quem desfilou foi o “júri móvel”, uma criação que não deu certo e foi abandonada no ano seguinte.

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