sexta-feira, 24 de junho de 2011

Caso 39

























Elenco:
Renée Zellweger, Jodelle Ferland, Ian McShane, Bradley Cooper, Kerry O'Malley, Callum Keith Rennie, Adrian Lester



Ainda na ressaca da Nardonimania, estreia por aqui o filme de 2007 Caso 39 (Case 39). No suspense, Renée Zellweger interpreta Emily, uma assistente social que consegue impedir que um casal desnaturado mate a filha de dez anos, Lilith (Jodelle Ferland). Qualquer semelhança oportunista com a realidade, porém, para por aí.

A ficção tem suas reviravoltas, e a de Caso 39 não é difícil de adivinhar. Nem se trata de spoiler. O espectador que não suspeitava antes - as referências religiosas, a começar pelo nome da menina, são marteladas ostensivamente desde o momento em que a câmera enfoca a ficha do caso 39 - rapidamente descobre que Lilith não é exatamente uma criança comportada.

A revelação precoce potencializa a vocação de Caso 39 para o humor involuntário. O primeiro filme dirigido em Hollywood pelo alemão Christian Alvart (que depois faria Pandorum), também o primeiro terror com Zellweger desde que ela atuou em The Return of the Texas Chainsaw Massacre em 1994, é uma trasheira só.

Zellweger colabora bastante - com o cabelo molhado ela fica a cara de John Travolta em A Reconquista - mas a comicidade vem, antes, da forma como o roteiro estabelece a personagem. Em suspenses desse tipo, a protagonista é sempre influenciável - por isso vem habitualmente acompanhada de "contrapesos", dois coadjuvantes que personificam pensamentos opostos, como o cético e o crente, aqui representados por Ian McShane e Bradley Cooper. O problema em Caso 39 é que Emily é muito mais influenciável do que o normal.

Repare na velocidade com que ela, primeiro, decide que o melhor é morar com Lilith. Depois, dentro da trama, não deve passar um dia inteiro, e Emily já está convencida de que a menina é do mal. Ao mesmo tempo, basta para a protagonista assistir ao depoimento em vídeo dos pais homicidas (pressume-se que a assistente social já deveria ter feito isso) para mudar de ideia e aderir ao ponto de vista deles.

O sucesso de um suspense (e de filmes em geral) depende, antes de mais nada, da nossa identificação com o drama do protagonista. Mas quem iria se identificar com uma personagem sem personalidade como Emily? Há heróis de ficção que tomam decisões erradas - eles não deixam de gerar empatia por isso - mas até mesmo para tomar uma decisão errada é preciso fazê-lo com convicção.

O filme tem uma cena boa, justamente a única que consegue inverter nossa expectativa: quando o celular toca abafado debaixo do colchão e imaginamos ser o rosnado dos cães da cena anterior. De resto, Caso 39, em cenas que deveriam causar medo, não vai além da sessão de sadismo. A diversão é acompanhar Renée Zellweger fazendo caras e bocas porque, afinal, uma boçal como Emily merece















Link original: http://www.omelete.com.br/cinema/critica-caso-39/

sábado, 4 de junho de 2011

Solitária
















Quando você ler esse bilhete
Já estarei na rodoviária
Quem sabe até na alta estrada

Viajei pra um cidade
Chamada solitária
Cansei de ser joguete cacete
Cansei de ser tão maltratada
Cansei de ser joguete cacete
Cansei de ser tão maltratada

Deixei bife e arroz no microondas
Joguei na privada aquela rosa
E a aliança eu deixei pra você pagar as contas
Não levo comigo celular nem a escova
Somente sua lâmina de barbear
E uma desesperança

Chegando lá vou ficar bêbada de querosene
Vou raspar os cabelos até perder a cabeça
Vou cometer haraquiri
Mesmo sabendo que nesse momento você ri

A banda mais bonita da cidade

Mentes Perigosas




















Ser consciente é ser capaz de amar

Como visto na aula do professor Osvaldo, o termo consciência é ambíguo, sugerindo dois significados totalmente distintos. E por isso mesmo, é compreensível que a esta altura o leitor esteja confuso. Na realidade, a consciência é um atributo que transita entre a razão e a sensibilidade. Popularmente falando, entre a "cabeça" e o "coração".

Falar sobre consciência pode ser uma tarefa "fácil" e "difícil" ao mesmo tempo. O "fácil" são as explicações científicas sobre o desenvolvimento da consciência no cérebro, que envolvem engrenagens como atenção, memória, circuitos neuronais e estruturas cerebrais, que só serviriam para confundir um pouco mais. Nada disso vem ao caso agora, pelo menos não é esse o meu propósito. Portanto, esqueça! Aqui, vou considerar o lado "difícil", subjetivo e relativo ao sentido ético da existência humana: o SER consciente.

Mostrar apreço às condutas louváveis, ser bondoso ou educado, ter um comportamento exemplar e cauteloso, preocupar-se com o que os outros pensam a nosso respeito nem de longe pode ser definido como consciência de fato. Afinal, a consciência não é um comportamento em si, nem mesmo é algo que possamos fazer ou pensar. A consciência é algo que sentimos. Ela existe, antes de tudo, no campo da afeição ou dos afetos. Mais do que uma função comportamental ou intelectual a consciência pode ser definida como uma emoção.

Peço licença e vou um pouco além. No meu entender, a consciência é um senso de responsabilidade e generosidade baseado em vínculos emocionais, de extrema nobreza, com outras criaturas (animais, seres humanos) ou até mesmo com a humanidade e o universo como um todo. É uma espécie de entidade invisível, que possui vida própria e que independe da nossa razão. É a voz secreta da alma, que habita em nosso interior e que nos orienta para o caminho do bem.

A consciência nos impulsiona a tomar decisões totalmente irracionais e até mesmo com implicações de risco à vida. Ela permeia as nossas atitudes cotidianas (como perder uma reunião de negócios porque seu filho está ardendo em febre) e até as nossas ações de extrema bravura e de auto-sacrifício (como suportar a dor de uma tortura física e psicológica em função de um ideal). E, assim, a consciência nos abraça e conduz pela vida afora, porque está em plena comunhão com o mais poderoso combustível afetivo: o amor.

De forma bem prosaica, imagine a seguinte situação:

Você está no aconchego do seu apartamento, depois de um dia exaustivo de trabalho e reuniões. Momentos depois, o interfone toca anunciando a visita inesperada de uma grande amiga. Ela está grávida de sete meses e chegou abarrotada de sacolas com as últimas compras do enxoval. Apesar do cansaço, você fica verdadeiramente feliz com sua presença.

Por alguns momentos, vocês conversam alegremente sobre o bebê, os planos para o futuro e colocam as "fofocas" em dia. Lá pelas tantas da noite, sua amiga diz que precisa ir embora.

Em frações de segundos, você pensa: "Preciso tomar um banho e dormir, será que ela vai entender se eu não acompanhá-la até a portaria do prédio?", "Mas ela está grávida e tem tanta coisa pra carregar!", "É melhor eu ir junto, não foi isso que me ensinaram."

Bom, essa tagarelice mental, que azucrina tal qual um crime cometido, sem dúvidas não é imoral. É absolutamente humana, natural e foge ao nosso controle. Mas também não é a sua consciência soprando no seu ouvido.

Ao contrário do "vou ou não vou", você é imediatamente tomado por um impulso generoso e se flagra no elevador com sua amiga, suas bolsas e sacolas. Chama um táxi, abre a porta do carro, diz ao motorista para ir com cuidado e se despedem felizes.

Hum! A consciência é assim mesmo: chega sem avisar e não complica, apenas faz!

Uma história mais comovente:

São Paulo, domingo, novembro de 2007. Cerca de três minutos após ter decolado do aeroporto Campo de Marte, um Learjet 35 caiu de bico sobre uma residência, onde moravam 14 pessoas de uma mesma família. No acidente morreram o piloto, o co-piloto e seis pessoas que estavam na casa. Os vizinhos Airton, de 47 anos, e seu pai, o sr. Ângelo, de 75, correram para o sobrado da família Fernandes assim que ouviram o barulho da queda do avião. Pai e filho conseguiram salvar Cláudia Fernandes, de 16 anos. Eles ouviram o choro da garota, que é autista e brincava com sua amiga Laís na hora do acidente. Airton, emocionado, descalço e com a blusa suja de sangue e cinzas, lamentava ter conseguido salvar apenas uma única vida. O sr. Ângelo queimou a mão ao salvar Cláudia e, após ser atendido por médicos no local, permaneceu na rua tentando furar o bloqueio policial para voltar aos escombros.

Sem qualquer sombra de dúvidas, podemos afirmar que Airton e Ângelo possuem consciência. E naquela tarde de domingo, eles não pensaram, simplesmente agiram: isso é pura consciência em exercício.

Todas as pessoas portadoras de consciência se emocionam ao testemunhar ou tomar conhecimento de um ato altruísta, seja ele simples ou grandioso. Qualquer história sobre cons ciência é relativa à conectividade que existe entre todas as coisas do universo. Por isso, mesmo de forma inconsciente (sem nos darmos conta), alegramo-nos frente à natureza gentil dos atos de amor.
Ana Beatriz Barbosa Silva

Trecho