sábado, 30 de junho de 2012

Titãs


São 12 deuses que, segundo a mitologia, nasceram no início dos tempos. Eles eram os ancestrais dos futuros deuses olímpicos (como Zeus, Afrodite, Apolo...) e também dos próprios mortais. Os titãs nasceram da união entre Urano, que representava o Céu, e Gaia, que seria a Terra. "Os titãs eram seres híbridos, nenhum era humano por completo e todos tinham o poder de se transformar em animais", afirma a historiadora Renata Cardoso Beleboni, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em mitologia. O poeta grego Hesíodo, que viveu no século 7 a.C., foi um dos principais autores da Antiguidade a narrar o surgimento dos titãs, numa obra clássica chamada Teogonia. Esse e outros textos épicos contam que tais seres mitológicos ajudaram na formação do mundo.
É que, no início dos tempos, Urano fazia seguidos filhos em Gaia, mas, como não se afastava dela, seus descendentes, entre eles os titãs, permaneciam presos no ventre da mãe. Insatisfeita com a situação, Gaia incentivou um de seus filhos, o titã chamado Crono, a decepar os órgãos genitais de Urano, fazendo com que este se afastasse dela. Essa metáfora mitológica é uma original maneira de explicar a separação entre o Céu e a Terra, que teria permitido o início da vida. Mas não foram só as iniciativas heróicas que marcaram os titãs. Após mutilar e derrotar Urano, Crono reinou e tornou-se um pai terrível para seus filhos (leia no quadro ao lado). O poder dele e de outros titãs sobre o mundo só acabou após eles terem sido derrotados por Zeus, o futuro chefe dos deuses olímpicos, numa sangrenta guerra chamada titanomaquia.
O terrível Crono

O mais famoso dos 12 titãs engolia os próprios filhos
O mais importante titã, e também o mais jovem, costumava ser representado com uma foice na mão, com a qual teria mutilado seu pai, Urano. Crono se uniu a uma de suas irmãs, Réia, com quem teve vários filhos. Como tinha medo de que os descendentes desafiassem seu poder sobre o mundo, ele engolia todos os seus filhos. Mas um deles, Zeus, contou com a ajuda da mãe para escapar desse destino trágico. Após crescer e se tornar forte, Zeus decidiu resgatar seus irmãos, dando uma poção para o pai que fez este vomitar todos os filhos engolidos. Com a ajuda dos irmãos, Zeus derrotou Crono e outros titãs numa grande batalha e passou a ser o grande chefe de todos os deuses gregos. Crono e seus aliados foram presos para sempre no Tártaro, o mundo subterrâneo para onde iam os mortos.
O resto da turmaDa união entre o Céu e a Terra nasceram os outros 11 deuses


OCEANO
Era o titã mais velho, representado por um grande rio que corria em volta de toda a Terra (então considerada plana), demarcando suas fronteiras. Oceano teria gerado todos os rios, riachos e fontes existentes
CEOS
Um titã obscuro, que tem importância apenas na construção da árvore genealógica dos deuses gregos, principalmente por ter sido avô de Apolo (deus das profecias, da medicina e da música) e de Ártemis (deusa da caça e da vida selvagem)
CRIO
Outro titã secundário, sem grande destaque na mitologia grega. Os textos lendários revelam apenas que Crio se casou com Euríbia, sua meia-irmã - filha de Gaia com Ponto, outra divindade que representava o mar

HIPÉRION
Era, provavelmente, uma divindade de origem pré-helênica, que acabou absorvida pela mitologia grega, aparecendo como um dos 12 titãs. Hipérion era identificado com as forças solares
JÁPETO
É importante na mitologia por causa de alguns de seus filhos. Um deles foi Atlas, que enfrentou Zeus na titanomaquia e, ao ser derrotado, recebeu como castigo a missão de carregar o mundo nas costas. Outro foi Prometeu, criador dos mortais
TÉTIS
Em alguns textos épicos, essa titã aparece como a deusa da fertilidade, simbolizando a capacidade geradora e fecundante das águas. Também, não é para menos: de sua união com o irmão Oceano nasceram milhares de filhos
FEBE
Conhecida como "a luminosa", ela se uniu ao irmão Ceos e teve uma filha chamada Letó, que seria um dos amores de Zeus e daria à luz dois importantes deuses gregos: Apolo e Ártemis
TÊMIS
Deusa da justiça e da sabedoria, ela foi a segunda esposa de Zeus. Segundo alguns textos mitológicos, Têmis inventou os oráculos e os rituais religiosos. Antes do surgimento de Apolo, ela era chamada também de deusa das profecias
TÉIA
Por ter se unido ao irmão Hipérion, também costuma ser identificada como uma divindade solar. Téia teve três filhos: Hélio (que seria o próprio Sol), Selene (a Lua) e Éos (a aurora)
MNEMÓSINE
A deusa da memória foi a quinta esposa de Zeus e mais uma das tias titãs que ele escolheu com quem procriar. Dessa união nasceram as nove Musas, deusas da literatura e das artes - como poesia, música e dança
RÉIA
Essa titã era irmã e mulher de Crono, a quem conseguiu enganar, evitando que seu filho Zeus fosse engolido por ele. Quando Zeus nasceu, Réia deu uma pedra para Crono engolir no lugar do recém-nascido. Ela foi mãe também de outros deuses, como Poseidon (deus do mar) e Hades (rei do mundo subterrâneo)
IRMÃOS DE OLHO GRANDE...
Além dos 12 titãs, Urano e Gaia tiveram três filhos chamados ciclopes. Eles eram gigantes, com só um olho na face, que lutaram ao lado de Zeus na guerra contra Crono. Os relâmpagos usados por Zeus na batalha foram forjados por eles










Link original: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quem-sao-os-titas-da-mitologia-grega

sábado, 2 de junho de 2012

De Pueris (Dos Meninos) - A Civilidade Pueril - Erasmo de Rotterdam

Todo mundo sabe sentar à mesa e ter modos crianças? - O que a gente entende por "etiqueta" não é igual em todas as partes do mundo... E quem nunca comeu frango com a mão? Se atualmente não seguimos à risca as regras na hora das refeições, imagina na Idade Média como a coisa era feia...


***





Estamos no ano de 1530, século XVI, Renascimento, Humanismo, em época que a educação aprimorada era para poucos, sobretudo para os nobres e príncipes.
É justamente nesse período de transição da Idade Média para a Moderna que Erasmo viveu. Imaginamos que no tempo que Erasmo edita seu manual, a sociedade Renascentista vivia num clima de catástrofe, de um lado a reforma do outro a contra reforma e a luta da Igreja em meio a rupturas resistia para fortalecer a instituição.
É nesse momento que aparece em cena a figura do mestre educador, com o intuito de ensinar a civilidade do comportamento coletivo.
Pois bem, o manual “De Pueris” foi feito para corrigir e ordenar atitudes externas comportamentais. Nesse sentido era um direcionamento no (modo de falar, agir, olhar, vestir-se).
Erasmo de Roterdã almejava mais, ele objetivava que a criança entrasse em harmonia com seus ensinamentos. O autor acreditava que a arte de ensinar deve obedecer as fases do crescimento espontâneo da criança.
O ato de educar, aliás, a educação tem o objetivo de cultivar, aperfeiçoar.  O educador potencializa o conhecimento do aluno.
Vale ressaltar que Erasmo, acreditava que somente proibir a criança não era a solução, então porque não motivar a criança à norma correta, despertando seu interesse.
Na Idade Média S.Tomás de Aquino já falara em educação com “docilidade”, com isso ao reparar o processo educativo o aluno desempenha um papel fundamental no aproveitamento do aprendizado.
“Aquele que acolhe recebe qual recipiente.” Evidente que a capacidade do recipiente determina o volume do conteúdo.
Erasmo edita seu tratado a faixa de conduta humana, as principais situações da vida social, cultural e de convívio. Delimita  em seu tratado questões corriqueiras da vida.
Erasmo de Roterdã
Segundo Erasmo a arte de instruir uma criança passa por diversas etapas, a principal consiste em fazer com que espírito da criança ainda tenro receba as sementes da piedade. A segunda é que tome amor pelas belas artes e que aprenda o bem A terceira que seja iniciada nos deveres da vida. E a quarta que se habitue, desde cedo, com as regras da civilidade.
O autor se propõe a tratar da civilidade para educar os meninos, principalmente os filhos dos nobres, Erasmo inova ao educar as crianças. Era mais comum ensinar aos jovens e adultos.
O manual de Erasmo influenciou um período compreende desde o século XVI a meados do XIX. Quando foi lançado em 1530, A Civilidade Pueril tinha o intuito de ser apenas mais um manual de regras de comportamento.
Contudo este livreto é bastante inovador em sua construção e no seu público, é pontualmente a primeira vez que um texto de instrução comportamental é direcionado a crianças.
É interessante salientar que as crianças pós Erasmo passaram a ir à escola e não mais a serem educadas exclusivamente no ambiente familiar. Nesse sentido o De Pueris se tornou verdadeiro manual pedagógico onde a formação da criança passaria a i fundamental para a sociedade ter homens de bem. 
Por fim Erasmo não pretendia criar um código de comportamento para ensinar bons modos para jovens e adultos e sim uma linguagem que tornasse possível a convivência de todos, e esta linguagem, sendo inserida prioritariamente na vida das crianças, traria sucesso nas relações entre adultos.
Cap. I
As atitudes corretas e incorretas
- Os olhos
“Para que a boa índole da criança seja transparente (e nada como os olhos para revela-la) convém que o olhar seja plácido, respeitoso e circunspecto.”
“Realmente, não foi, por acaso que a sabedoria  dos  antigos dizia que a alma tem sua sede nos olhos. As pinturas antigas nos dão a entender que olhos semicerrados eram sinal de peculiar modéstia.”
“É de certo, indecoroso olhar com uma vista aberta e a outra fechada. Que isso se não fazer-se de zarolho? – Deixemos semelhantes trejeitos para o atum e certos artesões.”
De fato para Erasmo, qualquer postura “indecorosa” deforma não só os próprios olhos, como também toda a aparência física e a beleza do porte.
- As Sobrancelhas
“As sobrancelhas devem ficar naturalmente distendidas  e não franzidas porque então projetam um aspecto ameaçador.”
- O nariz
“Nariz sujo e mucosa pituitária são sinais de indivíduo desasseado. Aliás, houve quem reprovasse o filósofo Sócrates por tal defeito.” – “Limpar o nariz  no braço ou sobre o cotovelo é próprio dos salgadores.” – “Não é bonito  também limpar o nariz com as mãos e, depois, esfrega-las nas vestes.”
-Espirro
“Se na presença de outras pessoas, ocorre o espirro, é de m bom  tom virar o dorso. Uma vez passado o acesso, há de se fazer o sinal da cruz sobre os lábios e , a seguir, tirando o barrete, fazer um cumprimento às pessoas que disseram “saúde” ou pelo menos, deveriam  tê-lo dito.”
- O rosto
As maçãs do rosto sejam de cor natural e sem afetação. Em todo caso nunca calha bem pintar as faces ou passar corante avermelhado. “Isso não obstante, seja o rosto devidamente cuidado, sem descambar para o ridículo ou para a idiotice ou ainda, como diz o provérbio, cair no quarto grau de insanidade.”
- O Riso
“Rir de tudo que se faz ou é dito eis coisa de bobalhão, mas, não rir de nada já é estupidez.”
- Cuspir
“Deve-se virar-se para o lado, quando alguém cuspir. Assim se evita borrifar ou conspurcar o outro. Se cair por terra parte da secreção mucosa, há de se colocar o pé em cima, como já foi dito acima, pois não se deve provocar náuseas em ninguém.”
-Vômito
“Para vomitar procura distância, pois vomitar não é delito. O execrável é predispor-se ao vômito por gulodice.”
-Dentes
“Deves ter o cuidado de manter os dentes limpos, mas estar a polir os dentes, servindo-se de certos pós é coisa afeminada. Esfregar com sal ou alume prejudica as gengivas. Típico da moda espanhola é enxaguar os dentes com urina.”
-Cabelo
“Não se pentear demonstra desleixo. Cuidar da limpeza não é imitar a denguice da menina.”
-Braços
“Cruzar os braços, entrelaçados um no outro, equivale à posta de preguiçoso ou de quem lança um desafio.”
-Pescoço
O pescoço não fique pendente nem para direita nem para esquerda, a menos que seja para um colóquio ou para outro motivo. Assim se evitam cenas de comediantes.
-Partes Pudendas
“Os membros aos quais a natureza outorgou o pudor, descobri-los sem necessidade, eis o que deve ficar alheio a uma índole liberal.”
-A urina
“Reter a urina é prejudicial para saúde. É de bom costume vertê-la em lugar reservado.”
-As pernas
“O correto seria assentar-se ter os joelhos juntos e, ao ficar de pé, aproximar as pernas uma da outra ou, pelo menos deixar pouco espaço entre elas.”
-Os pés
“Movimentar s pés, estando assentado, evoca o gesto de bobalhão.”
-As mãos
“Igualmente, gesticular com as mãos desperta  suspeita de alguma anomalia.
Cap. II
A elegância dos trajes
Nesse capítulo veremos sumariamente de algumas observações acerca dos vestuários.
-A roupa
“A roupa de certo modo, é o corpo. Isso porque externa as disposições interiores do individuo. Não há como estabelecer, aqui, normas rígidas, já que nem todos possuem igual riqueza nem a mesma categoria social. Além do mais, a elegância varia de lugar, sem esquecer que as preferências mudam ao longo do tempo.”
“Senhoras que arrastam longas caudas no vestido, nada mais ridículo. Igualmente é desaprovado tal costume nos homens. Deixo para outros opinarem se isso convém ou não para cardeais e bispos!”
“O uso de tecidos leves não faz boa figura nem nos homens nem nas mulheres. Convém então usar outro tecido de reforço de modo a ocultar aquelas partes que ficariam, impudicamente, expostas.”
“Em consonância com as partes e o status, respeitando ainda usos e costumes de cada região, deve-se ater à limpeza da roupa.”
- O asseio
“Há gente que mancha, com pingos de urina, as bordas dos gibões e das camisas ou ainda incrustam o forro das mangas com nódoas feias não de giz, mas de escarro e pituita.”
Cap.III
Como se portar na Igreja
“Sempre que adentrares  os umbrais da igreja, descobre a cabeça e, genofletando, ligeiramente, com o rosto voltado  Crispara o altar, saúda o Cristo e os Santos.”
- A missa
“Não fica bem transitar pelo recinto da Igreja como os peripatéticos. Lugar de passeio são as galerias e as praças públicas, mas não as Igrejas que foram consagradas para fins de evangelização, para a celebração dos mistérios da fé.”
“Guarda o seguinte é inútil ir a uma Igreja, se dali não saíres melhor e mais puro.”
Cap. IV
Os banquetes e as refeições
- Antes das refeições
“Nunca se assentar sem ter lavado as mãos, porém, limpa, primeiro, as unhas”. - Que elas não escondam sujeiras senão podes levar apelido de “unhas encardidas.”.
- Posição do corpo
“Não se perdoa a mania de pôr um ou dois cotovelos sobre a mesa. Isso passa despercebido nos velhos e nos doentes. Cortesãos há refinados que se permitem tais posturas. Não dês atenção a eles e nem os imites.”
-Talheres
“O copo fica à direita como também a faca, devidamente asseada, para talhar a carne. O pão à esquerda.”
- O pão
[..] apertar o pão com a palma da mão para depois parti-lo em pedaços com as pontas dos dedos. É coisa de cortesão. Tu porem deves cortá-lo, com a faca, indo de um lado para o outro. “Isso sim revela modo de gente refinada.”
- Bebida
“Antes de beber, engole a comida. Nunca aproximar o copo dos lábios sem, primeiro, tê-lo limpado com o guardanapo ou com o lenço, principalmente se um dos convivas te apresenta o próprio copo ou se todos bebem da mesma taça.”
- Impaciência o comer
“Há gente que, mal se aproxima da mesa, mete a mão nas travessas. Isso é coisa de lobo ou de quem devora as carnes da panela antes mesmo de serem feitas as libações aos deuses, como diz o provérbio.”
- Modo de ingerir
“Deglutir bocados inteiros, apressadamente, é próprio das cegonhas e dos histriões”.
“É costume de caipira estar a imergir no caldo o pão mordido.”
“Não jogar embaixo da mesa ossos e outros detritos a fim de não conspurcar o pavimento. Também não depositar sobre a toalha da mesa nem dentro da travessa de serviços. O certo é deixar, num canto, dentro do seu prato ou no pires que, segundo o costume corrente, destina-se a receber os restos.”
“Beber e falar com a boca cheia, sobre  ser mal- educado, é também perigoso.”
“Feio mesmo é ficar de olho no vizinho para observar o que ele come. Também não é elegante assentar os olhos, fixamente, em determinada pessoa.”
Mas o que era um comportamento socialmente aceitável na Idade média? – A questão das refeições tinha uma importância especial. Nesse sentido, comer e beber nessa época estava diretamente relacionado à posição social.
Cap V
Encontros e conversas e conversas
“É vulgar agitar os braços com os dedos bem como mexer com os pés, expressar-se menos com palavras e mais com o corpo todo. Isso fica bem nas rolas, nas alvéolas e nas pegas.”
“Sobraçar um livro ou um barrete pelas axilas é de mau gosto.”
“A voz da criança seja suave e calma.”
“Não sejas curioso a respeito das coisas alheias. Caso aconteça de ver ou ouvir qualquer indiscrição, tenta ignorar. o que acontece.”
Cap. VI
No leito
“Quando te recolheres ao cubículo, reconcilia o silêncio com a modéstia. Sem dúvida que barulho e tagarelice são muito mais detestáveis nas horas de estar recolhido ao leito.”
“Quer se despir, quer ao te levantar  do leito, lembra-te de manter o pudor. A Cuida para não descobrires ante os olhos dos outros aquelas partes de corpo que a natureza e a decência querem veladas.”
“Depois de aliviar o intestino, nada deves fazer antes de ter lavado a face e as mãos bem como enxaguar a boca.”
“Se de alguma utilidade for o presente  opúsculo, ó filho caríssimo, almejo seja o mesmo oferecido, por teu intermédio, a todas as crianças de tua idade.” - Erasmo

Fonte: De Pueris (Dos Meninos) - A Civilidade Pueril - Erasmo de Rotterdam