sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Besouro

História













Quando Manoel Henrique Pereira nasceu, não havia nem dez anos que o Brasil tinha sido o último país do mundo a libertar seus escravos.

Naqueles tempos pós-abolição nossos negros continuavam tão alijados da sociedade que muitos deles ainda se questionavam se a liberdade tinha sido, de fato, um bom negócio. Afinal, antes de 1888 eles não eram cidadãos, mas tinham comida e casa para morar. Após a abolição, criou-se um imenso contingente de brasileiros livres, porém desempregados e sem-teto. A maioriasem preparo para trabalhar em outros serviços além daqueles mesmos que já realizavam na época da escravatura. E quase todos ainda sem a plena consciência de sua cidadania. O resultado desse quadro, principalmente nas regiões rurais, onde estavam os engenhos de açúcar e plantações de café, foi o surgimento de um grande contingente de negros libertos que continuavam, mesmo anos após a abolição, submetendo-se aos abusos e desmandos perpetrados por fazendeiros e senhores de engenho.

Assim era sociedade rural brasileira de 1897, ano em que Manoel Henrique Pereira, filho dos ex-escravos João Grosso e Maria Haifa, nasceu na cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano.

Vinte anos depois, Manoel já era muito mais conhecido na cidade como Besouro Mangangá - ou Besouro Cordão de Ouro -, um jovem forte e corajoso, que não sabia ler nem escrever, mas que jogava capoeira como ninguém e não levava desaforo para casa. Como quase todos os negros de Santo Amaro na época, vivia em função das fazendas da região, trabalhando na roça de cana dos engenhos. Mas, ao contrário da maioria, ele não tinha medo dos patrões. E foram justamente os atritos com seus empregadores - e posteriormente com a polícia - que deixaram Besouro conhecido e começaram a escrever a sua imortalidade na cultura negra brasileira.

Há poucos registros oficiais sobre sua trajetória, mas é de se supor que a postura pouco subserviente do capoeirista tenha sido interpretada pelas autoridades da época como uma verdadeira subversão. Não por acaso, constam nas histórias sobre ele episódios de brigas grandiosas com a polícia, nas quais ele sempre se saía melhor, mesmo quando enfrentava as balas de peito aberto. Relatos de fugas espetaculares, muitas vezes inexplicáveis, deram origem a seu principal apelido: Mangangá é uma denominação regional para um tipo de besouro que produz uma dolorosa ferroada. O capoeirista era, portanto, "aquele que batia e depois sumia". E sumia como? Voando, diziam as pessoas...
Histórias como essas, verdadeiras ou não, foram aos poucos construindo a fama de Besouro. Que se tornou um mito - e um símbolo da luta pelo reconhecimento da cultura negra no Brasil - nos anos que se sucederam à sua morte.

Morte que ocorreu, também, num episódio cercado de controvérsias. Sabe-se que ele foi esfaqueado, após uma briga com empregados de uma fazenda. Registros policiais de Santo Amaro indicam que ele foi vítima de uma emboscada preparada pelo filho de um fazendeiro, de quem era desafeto. Já a lenda reza que Besouro só morreu porque foi atingido por uma faca de ticum, madeira nobre e dura, tida no universo das religiões afro-brasileiras como a única capaz de matar um homem de "corpo fechado".

E Besouro, o mito, certamente era um desses.

20 de novembro, dia da consciência Negra!

Fonte: http://www.besouroofilme.com.br/

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Chapolin

História
























...Em 1970 surgiu o programa "Chespirito", onde apareciam vários quadros de humor, no mesmo estilo de programas como "Zorra Total" e "A Praça é Nossa", mas tinha um pouco de graça e era mais bem produzido que as imitações brasileiras. Nesse programa apareceu pela primeira vez "El Chapulin Colorado" (Chapolin Colorado para os brasileiros)..O quadro logo virou um grande sucesso, ganhando horário próprio e
se transformando em um dos maiores sucessos da televisão na década de 70.

...Em 1973, a TV Tim - emissora dos programas Chaves e Chapolin - foi comprada pela Televisa, o que resultou em uma grande melhoria técnica nos dois seriados. Nessa mesma época, Chaves e Chapolin viraram sucesso internacional, sendo exportados para vários países da América Latina e posteriormente para mais de 70 países.

..O último episódio do Chapolin Colorado foi ao ar em 1979, uma edição especial para relembrar as aventuras do super-herói mexicano e exaltar suas vitudes. Mas Chapolin Colorado retornaria em 1984, porém do mesmo jeito que começou: como um quadro do programa "Chespirito", sendo definitivamente cancelado no ano de 1993.


Fonte:http://www.chapolin.org/historia.htm

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Astecas - história do povo asteca

A história dos astecas, cultura asteca, as pirâmides, História do México, povos pré-colombianos,
religião asteca, economia e arquitetura.






















Os astecas (1325 até 1521; a forma azteca também é usada) foram uma civilização mesoamericana, pré-colombiana, que floresceu principalmente entre os séculos XIV e XVI, no território correspondente ao atual México.

Na sucessão de povos mesoamericanos que deram origem a essa civilização destacam-se os toltecas, por suas conquistas civilizatórias, florescendo entre o século X e o século XII seguidos pelos chichimecas imediatamente anteriores e praticamente fundadores do Império Asteca com a queda do Império Tolteca.

O idioma asteca era o nahuatl.

Os astecas foram derrotados e sua civilização destruída pelos conquistadores espanhóis, comandados por Fernando Cortez.


Descobriu-se depois que são originários do norte, e invadiram uma cidade já existente no local, teotihuacán, dominaram seus construtores e se tornaram os donos do lago. Eram guerreiros sanguinários, e seus rituais religiosos incluíam vítimas humanas.

Construíram, numa ilha do lago Texcoco, uma cidade que ficou sendo a capital asteca: Tenochtitlán. Tinha grandes templos, pirâmides cheias de escadas, ruas pavimentadas e grandes arcos de pedra. Para as plantações de mandioca, cacau, algodão, fumo e outras, usavam um sistema de irrigação bastante adiantado, com aquedutos e canais por onde transitavam barcos. Como todos os outros povos pré-colombianos, os astecas não conheciam a roda.

Tinham uma escrita bastante complicada, um calendário baseado no ano solar de 365 dias, e conhecimentos de astronomia que assombraram os cientistas modernos.

O povo era organizado em classes sociais, com nobres, soldados, comerciantes e trabalhadores, e praticavam o comércio com outros povos. Havia escolas militares, religiosas e profissionais para as diversas classes sociais.

Fernão Cortez dominou os astecas em 1519, fazendo-se passar pelo deus branco que era esperado pelo povo. Os últimos reis astecas foram: Itzcoatl e Montesuma. A capital asteca foi destruída, e em seu lugar surgiu a cidade do México, onde se vêem ainda sinais da grande civilização que a precedeu.
...

Formação do Império, arquitetura, religião, imperador Montezuma,
agricultura, economia, artesanato, cultura e arte.

Introdução

Povo dedicado à guerra, os astecas habitaram a região do atual México entre os séculos XIV e XVI. Fundaram no século XIV a importante cidade de Tenochtitlán (atual Cidade do México), numa área de pântanos, próxima do lago Texcoco.

Sociedade asteca

A sociedade era hierarquizada (dividida em camadas bem definidas) e comandada por um imperador, chefe do exército. A nobreza era também formada por sacerdotes e chefes militares. Os camponeses, artesãos e trabalhadores urbanos compunham grande parte da população. Esta camada mais baixa da sociedade era obrigada a exercer um trabalho compulsório para o imperador, quando este os convocava para trabalhos em obras públicas (canais de irrigação, estradas, templos, pirâmides).

Imperadores

*Acamapichitli (1376–1395)
*Huitzilíhuitl (1395–1417)
*Chimalpopoca (1417–1427)
*Itzcóatl (1427-1440)
*Montezuma I (1440-1469)
*Axayacatl (1469-1481)
*Tízoc (1481-1486)
*Ahuizotl (1486-1502)
*Montezuma II (1502-1520)
*Cuitláhuac (1520)
*Cuauhtémoc (1520-1521)

Montezuma

Durante o governo do imperador Montezuma II (início do século XVI), o império asteca chegou a ser formado por aproximadamente 500 cidades, que pagavam altos impostos para o imperador. O império começou a ser destruído em 1519 com as invasões espanholas. Os espanhóis dominaram os astecas e tomaram grande parte dos objetos de ouro desta civilização. Não satisfeitos, ainda escravizaram os astecas, forçando-os a trabalharem nas minas de ouro e prata da região.

Agricultura

Os astecas desenvolveram muito as técnicas agrícolas, construindo obras de drenagem e as chinampas (ilhas de cultivo), onde plantavam e colhiam milho, pimenta, tomate, cacau etc. As sementes de cacau, por exemplo, eram usadas como moedas por este povo.

Artes, religião e arte asteca

O artesanato a era riquíssimo, destacando-se a confecção de tecidos, objetos de ouro e prata e artigos com pinturas. A religião era politeísta, pois cultuavam diversos deuses da natureza (deus Sol, Lua, Trovão, Chuva) e uma deusa representada por uma Serpente Emplumada. A escrita era representada por desenhos e símbolos. O calendário maia foi utilizado com modificações pelos astecas. Desenvolveram diversos conceitos matemáticos e de astronomia.

Na arquitetura, construíram enormes pirâmides utilizadas para cultos religiosos e sacrifícios humanos. Estes, eram realizados em datas específicas em homenagem aos deuses. Acreditavam, que com os sacrifícios, poderiam deixar os deuses mais calmos e felizes.

A religião
Eram politeístas (acreditavam em vários deuses) e acreditavam que se o sangue humano não fosse oferecido ao Sol, a engrenagem do mundo deixaria de funcionar.

Os sacrifícios eram dedicados a :

Huitzilopochtli ou Tezcatlipoca: o sacrificado era colocado em uma pedra por quatro sacerdotes, e um quinto sacerdote extraía, com uma faca, o coração do guerreiro vivo para alimentar seu deus;
Tlaloc: anualmente eram sacrificadas crianças no cume da montanha. Acreditava-se que quanto mais as crianças chorassem, mais chuva o deus proveria.
No seu panteão havia centenas de deuses. Os principais eram vinculados ao ciclo solar e à atividade agrícola. Observações astronômicas e estudo dos calendários faziam parte do conhecimento dos sacerdotes.

O Deus mais venerado era Quetzalcóatl, a serpente emplumada. Os sacerdotes formavam um poderoso grupo social, encarregado de orientar a educação dos nobres, fazer previsões e dirigir as cerimônias rituais. A religiosidade asteca incluía a prática de sacrifícios. Segundo o divulgado pelos conquistadores o derramamento de sangue e a oferenda do coração de animais e de seres humanos eram ritos imprescindíveis para satisfazer os deuses, contudo se considerarmos a relação da religião com a medicina encontraremos um sem número de ritos.

Há referências a um deus sem face, invisível e impalpável, desprovido de história mítica para quem o rei de Texoco, Nezaucoyoatl, mandou fazer um templo sem ídolos, apenas uma torre. Esse rei o definia como "aquele, graças a quem nós vivemos".




Fontes:http://www.suapesquisa.com/pesquisa/astecas.htm, Wikipédia,

O legado Egípcio
















Um dos grandes mistérios confrontados pela egiptologia é a forma extremamente súbita, realmente dramática a qual a cultura faraônica “decolou” no começo do terceiro milênio a.C. o pesquisador independente John Anthony West, o qual realizou o extraordinário trabalho na geologia da Esfinge, formula especialmente bem o problema:

“Todo aspecto do conhecimento Egípcio parece ter estado completo desde o início. As ciências, as técnicas artísticas e culturais e o sistema hieróglifo não mostra, virtualmente, nenhum sinal de um período de “desenvolvimento”; na verdade, muitas das realizações das primeiras dinastias não foram nunca passadas ou até mesmo igualadas pelas dinastias posteriores. Este fato surpreendente é prontamente admitido pelos egiptólogos ortodoxos, mas a magnitude do mistério que isso representa é habilmente esquecida, enquanto suas muitas implicações não são mencionadas.”

Como uma complexa civilização nasce do nada? Olhe para um automóvel de 1905 e compare com um moderno. Não há dúvidas do processo de “desenvolvimento”. Mas no Egito não há paralelos. Tudo estava lá desde o início.

A resposta do mistério é, claro, óbvia, mas porque ela vai de encontro com o pensamento moderno prevalescente, é raramente seriamente considerada. A civilização egípcia não foi fruto de um “desenvolvimento”, mas de um legado...

Fonte: http://www.acasicos.com.br/html/legado.htm

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

NON DVCOR DVCO

Fato: [estava eu no carro olhei para o lado, e prestei atenção em um símbolo que estava no ônibus.]





























A bandeira de São Paulo está em muitos pontos da cidade, mas com certeza a grande parte da população não tem a mínima idéia de seu significado. Pois bem, está ai.


O branco simboliza a paz, a pureza, a temperança, a verdade, a franqueza, a integridade, a amizade e a síntese das raças. O vermelho simboliza a audácia, a coragem, o valor, a galhardia, a generosidade e a honrra. A cruz (Cruz da Ordem de Cristo) evoca a fundação da cidade. O círculo é o emblema da eternidade e a frase no idioma latin descrito no brasão, significa, "Não sou Conduzido, Conduzo!" (NON DVCOR DVCO), reafirmando a posição de São Paulo como capital e líder de seu estado e como cidade mais importante do país em diversos aspéctos.

Foi instituída em 6 de março de 1987 pelo prefeito Jânio Quadros. Antes dela, a bandeira era toda branca com o brasão da cidade ao centro.

"Sou eu quem dá as cartas.
Sou líder, não liderado.
Sou a locomotiva deste comboio, não os vagões
Sou cacique, não índio”.

fontes:wikpédia,yahoo

sábado, 7 de novembro de 2009

Era uma Vez…

Rapunzel









Um casal sem filhos que queria uma criança vivia ao lado de um jardim murado que pertencia a uma bruxa. A esposa, no fim da gravidez, viu repolho no jardim e o desejou obsessivamente, ao ponto da morte. Por duas noites, o marido saiu e invadiu o jardim da bruxa para recolher para a esposa, mas na terceira noite, enquanto escalava a parede para retornar para casa, a bruxa apareceu e acusou-o de furto.

O homem implorou por misericórdia, e a mulher velha concordou em absolvê-lo desde que a criança lhe fosse entregue ao nascer. Desesperado, o homem concordou; uma menina nasceu, e foi entregue à bruxa, que nomeou-a Rapunzel.


Quando Rapunzel alcançou doze anos, a bruxa trancafiou-a numa torre alta, sem portas ou escadas, com apenas um quarto no topo. Quando a bruxa queria subir a torre, mandava que Rapunzel estendesse suas tranças, e ela colocava seu cabelo num gancho de modo que a bruxa pudesse subir por ele.


Um dia, um príncipe que cavalgava no bosque próximo ouviu Rapunzel cantando na torre. Extasiado pela voz, foi procurar a menina, e encontrou a torre, mas nenhuma porta. Foi retornando frequentemente, escutando a menina cantar, e um dia viu uma visita da bruxa, assim aprendendo como subir a torre.


Quando a bruxa foi embora, pediu que Rapunzel soltasse suas tranças e, ao subir, pediu-a em casamento. Rapunzel concordou. Juntos fizeram um plano: o príncipe viria cada noite (assim evitando a bruxa que a visitava pelo dia), e traria-lhe seda, que Rapunzel teceria gradualmente em uma escada. Antes que o plano desse certo, porém, Rapunzel tolamente delatou o príncipe.


Na primeira edição dos Contos de Grimm, Rapunzel pergunta inocentemente porque seu vestido estava começando a ficar apertado em torno de sua barriga, revelando tudo para a bruxa (que soube que Rapunzel estava grávida, o que significava que um homem se encontrara com ela). Em edições subseqüentes, Rapunzel perguntou distraidamente por que era tão mais fácil levantar o príncipe do que a bruxa.


Na raiva, a bruxa cortou cabelo de Rapunzel e expulsou-a da torre, para que ela vivesse sozinha. Quando o príncipe chegou naquela noite, a bruxa deixou as tranças caírem para transportá-lo para cima. O príncipe percebeu horrorizado que Rapunzel não estava mais ali; a bruxa disse que nunca mais a veria e empurrou-o até os espinhos de baixo, que o cegaram.


Durante meses ele vagueou através das terras infrutíferas do reino, e Rapunzel mais tarde deu a luz a duas crianças gêmeas. Um dia, ela estava bebendo água e começou a cantar com sua bela voz de sempre. O príncipe ouviu-a e encontrou-se com ela. As lágrimas de Rapunzel curaram a cegueira, e a família foi viver feliz para sempre no reino do príncipe.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Clarice Lispector






















" Escuta:eu te deixo ser. Deixa-me ser,então."


Por Pedro Karp Vasquez

Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores, ainda que os textos confessionais aqui coligidos possibilitem reveladores vislumbres de sua densa personalidade.

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A descoberta do amor
“[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.
Pois juro que a vida é bonita.”

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Temperamento impulsivo

“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”

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Lúcida em excesso

“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”

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Ideal de vida

“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser.
O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de ‘a protetora dos animais’. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la.
[...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.
É pouco, é muito pouco.”

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Escritora, sim; intelectual, não

“Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade.
[...] Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora?
O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.”

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A síntese perfeita

“Sou tão misteriosa que não me entendo.”

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A certeza do divino

“Através de meus graves erros — que um dia eu talvez os possa mencionar sem me vangloriar deles — é que cheguei a poder amar. Até esta glorificação: eu amo o Nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror, e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascida, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no nada.”

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Viver e escrever

“Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranqüila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.”
“Não sei mais escrever, perdi o jeito. Mas já vi muita coisa no mundo. Uma delas, e não das menos dolorosas, é ter visto bocas se abrirem para dizer ou talvez apenas balbuciar, e simplesmente não conseguirem. Então eu quereria às vezes dizer o que elas não puderam falar. Não sei mais escrever, porém o fato literário tornou-se aos poucos tão desimportante para mim que não saber escrever talvez seja exatamente o que me salvará da literatura.
O que é que se tornou importante para mim? No entanto, o que quer que seja, é através da literatura que poderá talvez se manifestar.”
“Até hoje eu por assim dizer não sabia que se pode não escrever. Gradualmente, gradualmente até que de repente a descoberta tímida: quem sabe, também eu já poderia não escrever. Como é infinitamente mais ambicioso. É quase inalcançável”.

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A importância da maternidade

“Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”
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Viver plenamente

“Eu disse a uma amiga:
— A vida sempre superexigiu de mim.
Ela disse:
— Mas lembre-se de que você também superexige da vida.
Sim.”

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Um vislumbre do fim

“Uma vez eu irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria. Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto — serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de ‘dois e dois são quatro’ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou! Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo. Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto...”

Textos extraídos do livro Aprendendo a viver, Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Os Pets dos Faraós




























A cientista começou mumificando coelhos. Eles têm um bom tamanho para se manipular e podem ser encontrados no açougue. "Em vez de fazer guizado de coelho, eu dei a vida eterna", brinca ela. O coelhinho Flopsy - Salima batizou suas múmias - foi enterrado inteiro no natrão. O corpo não durou dois dias. Gases se formaram dentro dele, e o bichinho explodiu. O coelho Tambor teve melhor sorte. Seus pulmões, fígado, estômago e intestinos foram removidos. Depois, ele foi recheado com natrão e enterrado na mesma substância.

Fofinha, a próxima candidata, ajudou a resolver uma charada arqueológica. O natrão com que foi recheada absorveu tanto fluido corporal que a coelha ficou visguenta, malcheirosa, repelente. Salima removeu o natrão encharcado e o substituiu por saquinhos de linho cheios de natrão fresco. Assim, ficava mais fácil remover o recheio quando ele estivesse encharcado, o que explicava a razão de se ter encontrado saquinhos similares em redutos de embalsamadores.

Pedro Coelho sofreu um tratamento diferente. Em vez de evisceração, foi-lhe aplicado um clister de aguarrás e óleo de cedro antes de ser colocado no natrão. Heródoto, o famoso historiador grego, escreveu sobre tal procedimento no século 5 a.C., mas os estudiosos sempre discutiram o quanto isso era confiável. Neste caso, o experimento provou que ele estava certo. As entranhas de Pedro Coelho se dissolveram, exceto o coração - único órgão que os antigos egípcios sempre deixavam no lugar.

Como os animais mumificados há mais de 3 mil anos, os bichos de Salima Ikram entraram felizes à posteridade. Uma vez realizado o trabalho laboratorial, ela e seus alunos seguiram o antigo protocolo dos embalsamadores e envolveram todos os corpos em bandagens estampadas com palavras mágicas. Recitando orações e queimando incenso, eles depositaram as múmias no armário de uma sala de aula, onde atraíram visitantes - inclusive eu. Deixei ali minhas oferendas, desenhos de cenouras e símbolos que os antigos usavam para multiplicar por mil os presentes desenhados. Salima Ikram me assegura que as imagens se tornam reais no outro mundo, e que seus coelhinhos estão agora muito alegres repuxando seus focinhos.

fonte: NAT GEO

Os Pets dos Faraós
























No dia do enterro do touro, os citadinos assomavam às ruas para presenciar esse momento de luto. Soltando lamúrias, eles se apinhavam no trajeto até a catacumba. Seguindo em procissão, os sacerdotes, os cantores do templo e as augustas autoridades depositavam a múmia na rede de túneis em abóbada escavados nas formações rochosas de calcáreo. Ali, encerravam o animal mumificado em um sarcófago de granito ou madeira. Nos séculos vindouros, porém, a santidade do lugar seria violada por larápios que, forçando a tampa do sarcófago, saqueavam as múmias à procura de seus ornamentos. Nem uma única tumba do touro Ápis resistiu intacta.

Diferentes animais sagrados eram reverenciados. Salima acredita que a idéia de tal divindade surgiu no alvorecer da civilização egípcia, época em que chuvas mais pesadas que as atuais tornavam a terra verdejante e fértil. Convivendo com os animais, as pessoas passaram a associá-los a divindades de acordo com os hábitos de cada bicho. Os crocodilos, por exemplo. Por instinto, eles depositam seus ovos na futura linha-d'agua no ápice das cheias anuais do Nilo, evento fundamental que irrigava os campos, permitindo ao Egito renascer ano após ano. "Os crocodilos eram seres mágicos", diz Salima, "por terem essa habilidade de antever o futuro."

As indicações de que a cheia seria boa ou ruim eram importantes em uma terra de fazendeiros. Assim, com o tempo, os crocodilos tornaram-se símbolos de Sobek, um deus aquático da fertilidade, e um templo foi erigido em Kom Ombo, um dos lugares ao sul do Egito em que a cheia montante era observada em primeiro lugar todos os anos. Naquele espaço sagrado, próximo da barranca do rio onde os crocodilos selvagens tomavam banho de sol, seus parentes cativos levavam uma vida mansa e, ao morrer, eram sepultados com os devidos rituais.

As múmias eram, em sua maioria, objetos votivos ofertados durante os festivais anuais nos templos dedicados aos cultos de animais. Esses encontros animavam os centros religiosos ao longo do Nilo. Os peregrinos chegavam às centenas de milhares. A rota da procissão enchia-se de música e dança. Mercadores vendiam comida, bebida e lembranças. Os sacerdotes viravam homens de vendas, oferecendo tanto múmias enroladas com simplicidade como as mais elaboradas a quem podia pagar mais - ou achava que podia. Com o incenso circulando por toda parte, os fiéis encerravam sua jornada depositando suas múmias no templo, em meio a orações.

Alguns lugares eram associados a somente um deus e seu animal simbólico. Entretanto, antigos sítios de veneração, como Abidos, comportavam coleções completas de animais votivos mumificados, cada espécie relacionada a um deus em particular. Em Abidos, terreno fúnebre dos primeiros governantes do Egito, as escavações revelaram múmias que aparentemente representavam Thoth, o deus da sabedoria e da escrita. É provável que os falcões evocassem o deus dos céus, Horus, protetor dos reis vivos. Cães eram vinculados a Anúbis, o guardião dos mortos, com sua cabeça de chacal. Ao doar uma dessas múmias ao templo, o peregrino visava obter favores de seu deus. "A criatura estava sempre a sussurrar no ouvido da divindade: 'Aqui está seu devoto, seja bonzinho com ele'", explica Salima.

A partir da 26ª dinastia, por volta de 664 a.C., as múmias votivas tornaram-se bastante populares. O país acabara de expulsar seus governantes estrangeiros e os egípcios sentiam-se aliviados por retomar suas tradições. O negócio das múmias floresceu, empregando legiões de trabalhadores especializados. Os animais tinham de ser alimentados, cuidados, sacrificados e mumificados. Era preciso importar as resinas, preparar as bandagens e cavar as tumbas.

Apesar do significado religioso das oferendas, as fraudes grassavam na linha de produção. As análises de Salima com raio X revelaram toda variedade de abusos contra o consumidor: um animal mais barato substituindo um mais raro e caro; ossos ou penas no lugar do bicho completo; belas bandagens circundando nada além de barro. Quanto mais atraente a embalagem, maior a chance de fraude, constatou a cientista.

Para descobrir como os antigos embalsamadores trabalhavam - os textos da época silenciam -, Salima realiza experimentos de mumificação. Para os insumos, ela visita o centro do Cairo e, em uma lojinha, um funcionário se vale de uma velha balança de cobre para pesar cristais cinzentos em pedaços. Trata-se de natrão, o principal agente desidratante utilizado na mumificação, um tipo de sal que absorve umidade e gordura. O natrão ainda é extraído a sudoeste do delta do Nilo, e é vendido para uso em faxina, como a soda cáustica. No herbanário, a cientista encontra os óleos que farão com que corpos secos e duros se tornem flexíveis de novo, além de pedaços resinosos de olíbano que, derretidos, vão selar as bandagens. O vinho de palmeira que os antigos usavam para lavar as cavidades internas dos corpos depois da evisceração é substituído por um gim local.


Fonte:NAT GEO

Os Pets do Faraós

Bichos eternos

Embrulhados em linho e encerrados com toda reverência em jazigos, as múmias de animais guardam pistas intrigantes sobre a vida e a morte no Antigo Egito.
Por A. R. Williams
Foto de Museu Egípcio do Cairo







Uma gazela de estimação de uma rainha era mumificada com a mesma pompa de membros da família real. Envolta em bandagens e posta num caixão de madeira feito sob medida, ela seguiu sua dona ao túmulo por volta de 945 a.C.

Em 1888, ao escavar a areia nas proximidades do vilarejo de Istabl Antar, um fazendeiro egípcio descobriu uma sepultura coletiva. Os corpos não eram humanos. Eram de felinos - um número assombroso de gatos da Antiguidade mumificados e enterrados em covas. Alguns envoltos em linho ainda pareciam apresentáveis e uns poucos exibiam caras enfeitadas. As crianças do vilarejo ofereciam os melhores espécimes aos turistas por qualquer troco. O resto era vendido a peso como fertilizante. Um navio chegou a transportar cerca de 180 mil gatos mumificados para Liverpool, uma carga que pesava algo como 17 toneladas, para serem espalhados pelos campos da Inglaterra.

Eram os idos tempos das expedições que escavavam por toda parte no deserto em busca de tumbas reais com esquifes e máscaras de ouro. Os muitos milhares de animais mumificados que apareciam não passavam de coisas a serem removidas para dar passagem ao que de fato interessava. Pouca gente dedicou-se a estudar esse material, e sua importância era ignorada.

No século seguinte, a arqueologia tornou-se menos uma caça aos troféus e mais uma ciência. Os escavadores se deram conta de que boa parte da riqueza dos sítios repousa na multidão de detalhes sobre pessoas comuns. As múmias de animais são parte importante dessa empreitada.

"Eles são de fato manifestações da vida cotidiana", afirma a egiptologista Salima Ikram. "Bichos de estimação, comida, morte, religião. Essa é a gama de interesses dos egípcios." Especialista em zooarqueologia – o estudo dos despojos de animais antigos -, Salima ajudou a encaminhar nova linha de pesquisa direcionada a gatos e outras criaturas. Como professora da Universidade Americana do Cairo, ela adotou a negligenciada coleção de animais mumificados do Museu Egípcio no âmbito de um projeto. Ao realizar mensurações precisas, espiar sob as bandagens de linho com raio X e catalogar suas descobertas, Salima criou uma ala para a coleção. "Você olha para esses animais e, de repente, diz 'Ah, o rei tal tinha um bicho de estimação. Eu também tenho'. E eis que os antigos egípcios saltam os mais de 5 mil anos que nos separam deles para se tornar gente como a gente."

As múmias de animais são agora uma das atrações mais populares no museu. Atrás de painéis de vidro jazem gatos envoltos em bandagens de linho, formando desenhos de diamantes, listras, quadrados e xadrês; musaranhos acondicionados em recipientes de pedra calcárea; carneiros em embalagens adornadas de contas; um crocodilo de carapaça, com 5 metros de comprimento, que havia sido enterrado ostentando múmias de jacarezinhos bebês dentro de sua bocarra; fardos recobertos de intrincados apliques contendo íbis, a ave de pernas longas e bico fino encurvado, endêmica ao longo do rio Nilo; gaviões; peixes. Até mesmo pequeninos escaravelhos com as bolotas de fezes que eles comiam.

Alguns animais eram preservados para que seus falecidos donos tivessem companhia na eternidade. Os antigos egípcios abonados preparavam suas tumbas com toda pompa, na esperança de que seus pertences pessoais estivessem disponíveis por vias mágicas depois da morte. A partir de mais ou menos 2950 a.C., os reis da primeira dinastia eram sepultados em seus complexos funerários, em Abidos, com cachorros, leões e burros. Mais de 2,5 mil anos depois, durante a 30ª dinastia, um plebeu de Abidos chamado Hapi-men foi levado ao jazigo com seu cachorrinho encolhido a seus pés.

Também mumificavam alimentos para os mortos. Os melhores cortes de carne, patos suculentos, gansos, pombos eram salgados, desidratados e envoltos em linho. "Provisões mumificadas", diz Salima Ikram. "Pouco importava se a pessoa tivesse ou não tido acesso a esses alimentos durante a vida. O fato é que, depois da morte, eles estariam lá à disposição."

Alguns animais eram mumificados por serem os representantes vivos de uma divindade. A cidade de Mênfis, capital do Antigo Egito durante boa parte de sua história, cobria 50 quilômetros quadrados no seu ápice, em torno de 300 a.C., com uma população de cerca de 250 mil habitantes. Hoje, a maior parte de sua glória jaz sob a aldeia de Mit Rahina. No entanto, ao longo de uma estrada poeirenta, as ruínas de um templo se erguem entre tufos de grama. Era ali o local em que se embalsamava o touro Ápis, um dos mais reverenciados animais daquela época.

Símbolo de força e virilidade, o Ápis tinha ligações estreitas com o rei. Ele era meio animal e meio deus, e foi eleito para veneração por causa de um conjunto incomum de marcas que ostenta no corpo: um triângulo branco na testa, formas esbranquiçadas de asas nos quartos dianteiros e traseiros, a silhueta de um escaravelho na língua e pelo duplo na ponta do rabo. Ao longo de sua vida, era mantido em um santuário especial, onde se via paparicado pelos sacerdotes, adornado com ouro e joias e adorado pelas multidões. Ao morrer, acreditava-se que sua essência divina migrava para outro touro, deflagrando, então, a busca por esse novo escolhido. Nesse meio tempo, o corpo do falecido era transportado para o templo e depositado em um leito de travertino (um tipo de rocha calcárea), trabalhado com primor. A mumificação demorava pelo menos 70 dias - 40 para secar o enorme repositório de carne e 30 para cingi-lo de bandagens.











Fonte:NATGEO