sábado, 30 de janeiro de 2010

Um experimento Socialista em sala de aula..


















Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que ele nunca repetiu um só aluno antes, mas tinha, uma vez, repetido uma classe inteira.
Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e ''justo."
O professor então disse, "Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas em testes."
Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e, portanto seriam "justas." Isso quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém repetiria. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia um A...
Depois que a média das primeiras provas foram tiradas, todos receberam Bs. Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.
Quando o segundo teste foi aplicado, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. Como um resultado, a segunda média dos testes foi D.
Ninguém gostou.
Depois do terceiro teste, a média geral foi um F.
As notas não voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por 'justiça' dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram... Para sua total surpresa.
O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado porque ele foi baseado no menor esforço possível da parte de seus participantes.
Preguiça e mágoas foi seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual o experimento tinha começado.
"Quando a recompensa é grande", ele disse, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós.
Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável."


fonte: desconhecida

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Saber e ser Ignorante














Por Lúcio Packter

Não há Filosofia enquanyo o indivíduo não deixa as estrelas na distância qual vivem e se ocupa de suas próprias cpisas, por estrelas que sejam. Assim é para Sócrates. Tudo nos leva a crer que ele, de fato, buscava uma verdade que surgisse, em geral belicosamente, de seu método indutivo. Nós o encontramos com a juventude de Lísias, com as liberdades de pitágoras, de Gógias também, com o arranjo de comandos de Laques (militar). Na indecisãodos argumentos, na fraqueza dos discurso, Sócrates crescia.
Em Mênon temos um arrojado exemplo de Filosofia e uma desculpa para o paradoxo que até hoje nos acompanha em muitos casos: saber e ser ignorante.
Reencontramos Sócrates em longas páginas dos autores de hoje.Atualizado, sério, prostrado, aflito, sereno, esperançoso,contrito, de tudo um pedaço. Em "A montanha mágica, Thomas Mann, é um exemplo quando escreve que : " Dois dias de viajem apartam um homem- e especialmente um jovem que ainda não criou raízes firmes na vida- do seu mundo cotidiano, de tudo quando ele costuma chamar seus deveres, interesses, cuidados e projetos; apartam-no muito mais do que esse jovem imaginava eanquanto um fiacre o levava á estação. O espaço que, girando e fugindo, se roja de permeio entre ele e seu lugar de origem, revela forças que geralmente se julgam privilégio do tempo; produz de hora em hora novas metamorfoses íntimas, muito parecidas com aquelas que o tempo origina, mas em certo sentido mais intensas ainda. tal qual o tempo, o espaço gera o olvido; orém o faz desligando o indivíduo das suas relações e pondo-o num estado livre, primitivo; chega até mesmo a transformar, num só golpe, um pedante ou um burguesote numa espécie de vagabundo. Dizem que o tempo é como o rio Letes; mas também o ar de paragens longínquas representa uma poção semelhante, e seu efeito, conquanto menos radical, nãod eixa de ser mais rápido".

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

AKHENATON

Arauto do Cristo Cósmico no Egito

Baseado na Obra de Corinne Heline

Por um Probacionista


***

























A Oitava Dinastia culminou na História Egípcia como um mundo poderoso. Sob o brilhante Faraó Amenophis III a dominação egípcia se estendia à Síria e Mesopotâmia. Tributos provenientes de cidades costeiras do Mediterrâneo enchiam rapidamente os cofres e a riqueza facilmente adquirida corrompia tudo que tocava.



Akhenaton não é lembrado pela riqueza, nem pelo poderio militar egípcio. Não valorizava nada disto, nem mesmo se contentava em predicar os cânones consagrados como verdade pela casta sacerdotal dominante. Viveu a vida de um sábio enquanto ocupava o trono.



A história das religiões nos informa que sempre quando uma nação atinge seu Zenith em prestígio e poder mundano, a religião dominante do referido período se cristaliza em formas convencionais quase totalmente desprovida de iluminação espiritual; e sempre um mensageiro é enviado pela Hierarquia Invisível para desobstruir o caminho. Segundo Corinne Heline tal condição prevalecia naquele período, vindo Akhenaton promover uma nova era de pensamento espiritual.



Os primeiros reis Egípcios foram Iniciados pelos Mestres Atlantes que oficiavam os vários graus de Iniciação no Templo de Mistérios da Grande Pirâmide. Posteriormente um elaborado cerimonialismo foi desenvolvido e transmitido em benefício das massas, mas o verdadeiro trabalho iniciático estava reservado à linhagem sacerdotal e à casa real, sendo tais privilégios transmitidos hereditariamente. Os faraós primitivos eram portadores da luz espiritual , sendo chamados de “Filho do Sol”, que designa Horus encarnado. O Templo de Heliópolis era o centro focal desta antiga Escola Iniciática, cujas raízes procedem do período primordial do Egito.



Segundo a Escola de Heliópolis, “Aton ou o Sol é o corpo físico do Logos diretor de nosso sistema solar emanado do Logos Universal. O globo solar, fonte de luz, calor e vida, é o transmutador prodigioso que recolhe as vibrações transcendentes da Divina Fonte, criadora de mundos, e as tranforma em forças mentais, vibrações construtoras do Cosmos e energias vitais, que verte sobre os astros opacos que a ele estão subordinados. Assim fecunda nossa terra, virgem e mãe, sem tocá-la nem manchá-la. O Sol é a imagem viva da Divindade. Resplandece com a ofuscante luz da Verdade Absoluta. É o Senhor da Natureza”.



Tais verdades sagradas, esquecidas pela grande maioria foi preservada por muito poucos na época da Oitava Dinastia. Um sacerdócio rival, que colocava a política acima da espiritualidade e praticava grotescas formas de magia e feitiçaria derivadas de antigos cultos remanescentes, usurpara o prestígio e o poder que formalmente detinha o Templo de Heliópolis. As injustiças e crueldades impostas ao povo estão reportadas no Livro do Exodus. O principal Templo consagrado ao Deus Amon localizava-se em Thebas. O culto ganhou ascendência com Amenhotep III, refém político do sacerdócio de Amon, que restaurou o Templo de Luxor e construiu muitos outros templos consagrados a Amon . O Templo de Karnac, o grande Centro Esotérico, que perpetuava a tradição oculta do período Atlante se tornaria a mais magnífica ruína do mundo. O sacerdócio de Amon gradualmente conferiu a si mesmo o título de Deus de Heliópolis e, como Amon-Ra, ascendeu à supremacia como o Culto do Estado.



O alto-sacerdote de Amon-Ra era geralmente o Grande Vizir (primeiro-ministro) do Egito e freqüentemente ultrapassava o próprio rei em poder e prestígio. Sua corte comportava hierarquias de sacerdotes a ele subordinado, que recebiam extraordinários privilégios.



Foi no meio deste cenário decadente que, Akhenaton, um dos Irmãos Maiores foi enviado para reacender a tocha espiritual que havia sido apagada pela idolatria, pelo luxo e pelo abuso de poder tanto da Igreja quanto do Estado. Em seu estudo sobre a XVII dinastia (1375-1358) , Arthur Weigall escreve:



“Akhenaton foi o primeiro ser humano que possuiu o sentido do divino; o primeiro que enquanto o fragor das guerras dominava o mundo, predicou a paz, a simplicidade re a honradez ; o primeiro que professou o amor à Humanidade, e o primeiro que livrou seu coração da queda na barbárie.”



“ Como um raio de ofuscante luz na noite dos tempos , Aton , O Sol , símbolo do Deus verdadeiro, destaca-se por um instante no seio da escuridão egípcia e, mais uma vez, desaparece prenunciando as futuras religiões monoteístas ocidentais. Poder-se-ia crer que o misericordioso o Deus todo-poderoso teria se revelado, por alguns instantes ao Egito.Nenhum homem cuja mente esteja livre de preconceitos poderá ignorar a íntima semelhança dos ensinamentos de Cristo na religião de Akhenaton, tanto quanto em Abraham , Isaac e Jacob. A fé do patriarca é a linear ancestralidade da fé Cristã; porém o credo de Akhenaton é seu protótipo isolado. O Altíssimo Deus por um instante revelou-se a Si mesmo ao Egito , onde foi mais claramente interpretado que o fora na Síria ou na Palestina antes do advento de Cristo”.



Segundo Corinne Heline, a preparação para o nascimento de um Grande Avatar deve começar com seus avós. Tal postulado está exemplificado na vida de Akhenaton, que teria sido escolhido para ocupar o trono através da mediação da Esfinge. A Grande Esfinge de Gizeh e a Grande Pirâmide eram câmaras iniciáticas sob a guarda dos sacerdotes de Heliópolis, sendo o alto sacerdote conhecido como “ o Profeta Clarividente” . Thutmose IV , que reinou de 1420 a 1411 a.C. , avô de Akhenaton foi consagrado pelos sacerdotes de Heliópolis como “Filho de Aton que purifica Heliópolis e satisfaz Ra”. Akhenaton foi ativo na restauração da Esfinge.



Após a transição de Thutmosis IV ao Oriente Eterno, seu filho Amenhotep III assumiu o trono (1411 a 1375) , conduzindo o Egito ao pináculo da glória material. Durante o reinado destes dois Faraós, a corte do Egito atraiu grande número de homens sábios e instruídos; entre os quais Amenhotep – Filho de Hapu – venerado por gerações como um santo e porta-voz dos Deuses. Ele era um dos articuladores da restauração do Templo de Heliópolis. Com Amenhotep IV ( Akhenaton ) , sua influência foi marcante. Outro homem sábio tinha o nome de Ywaa, tinha uma filha chamada Tiy, que casou-se com Amenhotep III, tornando-se a Rainha Tiy (Taia) , a mais brilhante e famosa das rainhas egípcias e mãe de Akhenaton.



A influencia da família materna é muito clara na vida de Akhenaton. A mãe de Amenhotep III recebera uma visão anunciatória do Deus Amon, e seu filho justificou sua visão em todos os aspectos. Em vez de seguir os passos de seu tolerante e político pai, Amenhotep III, caminhou em outra direção influenciado pela família materna e amigos de procedência Síria. Tanto a rainha, quanto seu sogro estavam engajados na preparação do advento do Cristo Cósmico.



Cerca de 1300 anos antes da era cristã, Akhenaton protagonizou como Cristo, uma vida como portador de Luz, recebendo como troca traições e perseguições. A bondosa rainha Tiy e seu santo pai, prepararam o jovem para a nobre missão, aconselhando-o a restaurar o Santo Culto de Heliópolis preferencialmente ao Culto a Amon – que, apesar de patrocinar a Casa Real, nunca ganhou totalmente os corações dos devotos de Ra e Ptah.



Reportando-se aos registros akásicos, afirma Corinne Heline : “ Ainda que suas idéias ultrapassavam as de sua época, não intimidou-se a afirmá-las e pô-las em prática. Ainda hoje as modernas nações encontram dificuldade de praticar a doutrina da fraternidade entre os homens acima dos sectarismos de nacionalidade. Akhenaton não foi apenas um vanguardista de sua própria era; ele foi o precursor de sucessivas eras. Seu ideal ainda não foi atingido, ainda que seu eco se repita na boca de muitos sábios.”



O intervalo compreendido entre os treze e quatorze anos, é sempre um tempo marcante na vida de um Grande Mestre, sinalizando a direção que irá escolher em seu caminho. Este significante período em sua vida brindou o casamento de Akhenaton com Nefertiti e sua ascensão ao trono.



Nefertiti significa a personificação da beleza. Esta bela e bondosa rainha foi uma alma madura e devota colaboradora no esplendido trabalho de Akhenaton pelo povo egípcio. Foi muito admirada tanto por seu nobre caráter quanto por sua rara beleza. Ela compartilhou toda a gloriosa carreira espiritual de seu marido e sua existência foi marcada tanto pela inteligência como pela bondade e devoção.



Akhenaton não desperdiçou nenhum tempo no exercício de sua missão. Como o Mestre Jesus, mediador do Logos Solar, se ocupou desde cedo nos “negócios do Pai”. Instituiu reformas baseadas nos princípios fundamentais do Culto Solar de Heliópolis, porém numa oitava acima ou numa nova espiral. No quinto ano de seu reinado, com apenas dezesseis anos, eliminou o antropomorfismo, destruindo as estelas erigidas em homenagem a Amon , sacrificando até as obras realizadas por seu pai .O Sol foi saudado como o símbolo de um Deus que amava todas as nações, que desejava a paz em vez de guerras, a irmandade entre as nações em vez de uma nação conquistar a outra. Seus hinos declaram que Deus é um Ser invisível que não pode ser representado por imagens; que Ele é o Deus de todas as nações; que Ele ama todos os homens em igual proporção; que Ele é o criador, Preservador e misericordioso Pai da humanidade e de todas as criaturas viventes.



“Quão múltiplas são as tuas obras!

Elas estão ocultas aos homens,

Ó Deus único, a quem nenhum outro se compara.

Criaste a Terra segundo o teu coração.”



Sua implicação com a Verdade está registrada num de seus decretos: “ Este é o juramento que desejo proclamar, conforme a Verdade, e do qual, por toda a eternidade, jamais direi que é falso.”



Apesar de sua juventude, era sábio na sabedoria do espírito. Seu corpo era delgado e frágil, sua natureza era serena e gentil, seu temperamento era pensativo e estudioso. Adorava contemplar as belezas da natureza, e sua face se transfigurava em êxtase espiritual. Era reverenciado e adorado por seu povo , sendo chamado carinhosamente de “Senhor do Sopro da Doçura”



De dezessete aos dezenove anos devotou-se completamente à nova religião. Rompeu com o sacerdócio de Amon-Ra e decidiu mudar a Corte para um lugar virgem a beira do deserto , “que não pertencesse a algum deus ou deusa, príncipe ou princesa, e do qual ninguém pudesse reclamar a propriedade. Em 1370 a.C. , acessorado pelo arquiteto Bek, construiu a nova capital em El Amarna, na planície de Hermópolis a uns trezentos kilômetros ao sul de Heliópolis, rompendo com a tradição religiosa de Tebas.



Reportando-se aos registros akásicos, Corinne Heline relata que “ nenhuma utopia visualizada em nossa presente época poderia exceder em beleza a adorável cidade construída pelo jovem rei e chamada Akhetaton ( Horizonte do Sol ), atualmente Tell-el-Amarna. Ela foi dedicada à Luz e a reverente comunhão com a natureza era essencial ao trabalho espiritual”



Ao inaugurar a nova cidade, o jovem Faraó declarou: “Aton meu Pai que concebeu esta cidade; nenhum nobre me conduziu à ela; nenhum homem em toda a face da terra me guiou ; Aton, meu Pai, mandou-me contruí-la . A Cidade do Horizonte, como o Sol no céu será eterna. Aos 21 anos sua residência foi fixada em Akhetaton. Mudou seu nome para Akhenaton ( Aquele a quem Aton se satisfaz ou glória de Aton ) e acrescentou um título usado até a sua morte: “ Vivendo na Verdade”.



Por cerca de quatro anos prosperou o novo regime. Na beleza e na paz de sua santa cidade, Akhenaton concentrou sua energia na causa de Aton, porem , impaciente com a lenta conversão de seu povo, usou seu poder como Faraó para forçar a devoção a Aton em todo o Egito, o que provocou o antagonismo dos cultos rivais, principalmente a conspiração do sacerdócio de Amon, que fora hegemônico .



Akhenaton foi um Iniciado nos Mistérios Solares. Tal Iniciação era uma prerrogativa dos Faraós, apesar de que nem todos eles atingissem a mesma expansão de consciência. Alguns instrumentavam os poderes conquistados para manter sua autoridade sobre a nação e adquirir cada vez mais fortuna. Akhenaton foi totalmente na direção oposta. Ele só desejava estabelecer a beleza, a paz e a fraternidade sobre a terra. Fez do Sol Alado o símbolo da manifestação do Verbo, exaltou o valor da Verdade e exigiu uma moral mais humanitária.



“As asas estendidas do astro mítico, da fênix – diz Schuré – se abrem horizontalmente. Duas serpentes entrelaçadas e enroladas ao disco se erguem ladeando-o com suas cabeças vigilantes. Este é o signo de Horus, o Verbo Solar, o Deus manifestado, o Apolo egípcio, símbolo capital e central desta religião que evoca o Deus que vive através do homem e da natureza. Seu curso ilustra as viagens da alma e a evolução do Universo. As duas serpentes, cujas cabeças se lançam fora do circulo do Infinito e que se encontram no caduceu do Hermes grego, personificam os dois movimentos do Espírito Eterno: sua aspiração e sua expiração. Uma insufla sua vida a todas as formas da matéria; outra, absorve às almas que retornam ao sol divino. O Sol alado de Horus só tem um significado. Sua voz viril ressoa com a língua universal dos símbolos e domina aos demais como acorde perfeito que sintetiza todas as harmonias, e diz: O Espírito é Um; a Alma, que anima a carne, é imortal, e sua vida através dos mundos se denomina Ressurreição”.



Akhenaton proibiu que Aton fosse idolatrado através de imagens. Simbolizou-o como um disco solar irradiando raios de luz . Dirigiu a atenção do povo ao “Calor que está no Sol” , que representa o Cristo Cósmico, o Espírito Invisível e interno do Sol, que existe atrás do esplendor externo do Sol. Ao círculo interno Akhenaton se refere ao Sol Espiritual , não como “Aton”, mas como o “Mestre de Aton”. Mais tarde substitui a palavra Calor por Resplendor



Akhenaton era tanto poeta quanto místico. Seus hinos podem ser comparados com os salmos de David, no Antigo Testamento. No Salmo XXIII, David canta: “O Senhor é meu pastor; nada me faltará” . Muito antes Akhenaton cantara: “ Não há pobreza para quem descansa no coração do Senhor”. “Aton vivo ao lado do qual não há nenhum outro”.



“Os antigos Templos Egípcios eram lugares fechados com muitas câmaras subterrâneas. Akhenaton concebe o culto a Aton como uma religião de luz e seus Templos se tornam emblemáticos deste fato. Delicados e graciosos em estrutura, abertos em todos os lados à luz solar e irradiando cor e fragrância, tais estruturas exemplificaram o espírito do Faraó ensinando que o homem está mais próximo de Deus quando mais próximo da natureza. Na vasta área externa do Templo de Aton, decorada com os sete tons da escala cromática, eram observados os cerimoniais da aurora e do místico por do sol, oficiando o próprio Faraó o ritual. Na parte menor e mais interna do Templo eram oficiados os ritos mais esotéricos de consagração , oficiados pela Rainha Nefertiti”, relata Corinne Heline. Os modernos ocultistas atentos aos ritmos da natureza sabem que a polaridade das forças liberadas na aurora do Sol é positiva ou masculina enquanto aquelas relativas ao por do sol são negativas ou femininas.



Da mais antiga dinastia procede ao eco de um cerimonial solar: “ Ó Senhor, Que é coroado o rei dos deuses, faça o espírito de minha alma glorioso; faça Senhor o espírito de meu coração divino.” “No impressionante Ritual da Litania Solar “, escreve Corinne Heline, “ que se refere ao trabalho dos nove graus dos Mistérios Menores, o alto-sacerdote, conduzindo uma estrela luminosa em cada mão, é seguido pelos aspirantes em uma procissão, cantando eles nove vezes em uníssono: “ Abra-me o Caminho da Paz , da Verdade e da Justiça “ “. O hino do sol poente era cantado em tonalidade menor, enquanto que o hino do sol nascente era cantado em tonalidade maior. O Coral Aleluia ,de o Messias de G.F. Haendel foi inspirado nestes majestosos e exultantes cantos que ecoam através dos séculos do Antigo Egito.



Com Akhenaton floresceram as artes e as ciências. Seu amor à natureza é comparado ao de São Francisco e seu sacerdócio inspirou a original Ordem fundada por São Francisco de Assis, que também pretendia restaurar a devoção ao Logos Solar, eclipsada pela opulência da Igreja Católica.



A universalidade de sua religião e a proibição da idolatria acabou provocando rebeliões internas, comandadas pelos sacerdotes tebanos e invasões externas, reduzindo o império a uma pequena faixa.



“Se algum homem deseja me seguir, que pegue a sua cruz e me siga”, disse Cristo a seus Doze Discípulos; porém tais palavras pertencem a todos os Grandes Mestres que foram enviados como portadores de Luz. Akhenaton também vivenciou a Agonia do Jardim do Gethsemane quando viu a bela e pacífica capital de Império, a cidade idealizada como a capital de um mundo governado e regulado pelo amor e sabedoria divina – cercada por forças malignas. O Egito não estava preparado para realizar seu sonho, amigos íntimos desertaram a cidade de amor e paz, muitos de seus soldados se juntaram aos exércitos inimigos e seus mais íntimos discípulos também dormiam, quando o Iluminado Mestre vivenciava sozinho seu Gethsemane.



Com o colapso do Império seu ardente coração cessou de bater, e sua missão terrestre como Mensageiro do Logos Solar, o Cristo Cósmico chegava ao fim.



Seu corpo mumificado depositado numa urna dourada foi colocado numa tumba em um monte especialmente preparada para ele. Aos seus pés foi colocado um de seus salmos:



Eu respiro a doce fragrância que procede da boca do Senhor. Eu contemplo a Sua beleza todos os dias. É meu desejo poder ouvir a Sua doce voz, até mesmo nos ventos que sopram ao norte, que meus lábios possam ser rejuvenescidos rejuvenescidos com vida através do amor a Ti . Dê-me Tuas mãos , cubra-me com Teu Espírito. Que eu possa recebê-Lo e viver por Ele. Confira eternidade ao meu nome que jamais perecerá.



Pouco tempo após após a sua morte física seu trabalho foi destruído. Sua adorável cidade se tornava uma ruína e sua Corte retornava à Tebas , onde florescia novamente o culto a Amon-Ra e o poder de seu sacerdócio. Seu nome foi proscrito e sua memória amaldiçoada. Ele que tinha vindo com um sonho de fraternidade era lembrado como um herético e criminoso. O Karma Coletivo de um povo que rejeita um Mensageiro enviado pelo Governo Invisível é sempre muito difícil. Tanto a antiga quanto a história moderna registram de várias formas a lei inexorável por trás destes fatos. Como descreve uma profecia de Hermes, o Egito, a projeção dos céus, o santuário do mundo seria abandonado pelos deuses, e entregue a alienígenas, reduzindo-se sua gloriosa história a lendas sujeita a incredulidade dos homens...



Poucas almas sintonizadas com o espírito de amor de Akhenaton perpetuaram suas idéias nas tradições esotéricas e nas religiões monoteístas do Ocidente. O Departamento de Cura de Mt. Ecclesia construído em forma de cruz, com um madala representando uma rosa ao centro, circundado por um pentagrama formado por folhagens e cercado de rosas , na Terra onde a Águia bate as suas asas, constitui um renascimento do culto ao Logos Solar, o Cristo Cósmico, que viria a se manifestar plenamente na terra através do Mestre Jesus, que foi preconizado em toda a sua glória pelo Glorioso Akhenaton, o Faraó do Sol.



“Acrescenta meu amor por Ti Senhor

Para que eu possa servir-Te de melhor forma cada dia.

Faça com que as palavras de meus lábios,

E as meditações de meu coração sejam gratas à Teus Olhos.

Ó Senhor , minha força , meu Redentor”



Esta oração dedicada pelo Mestre Max Heindel ao Cristo Cósmico tem seu protótipo nos Salmos de Davi, inspirados nos hinos de Akhenaton.

-Alexandre David

Fonte: http://www.fraternidaderosacruz.org/akhenaton.htm

domingo, 24 de janeiro de 2010

Lena Baker




























Lena Baker (8 de Junho de 1901 - 5 de Março de 1945) foi uma afro-americana executada no estado da Georgia em 1945 pelo assassinato de Ernest Knight, seu patrão de 67 anos. Foi a única mulher a ser executada na cadeira elétrica na Georgia. Em 2005 foi oficialmente perdoada, pois na verdade agiu em legítma defesa.

***

1 Julgamento
2 Execução
3 Perdão
4 Filme

***

Julgamento
Em 14 de agosto de 1944 iniciou-se o julgamento de Lena Baker, presidido pelo juiz William "Duas Pistolas" Worrill, que manteve 2 pistolas a vista durante o julgamento. Ao fim da tarde, o júri, composto apenas de homens caucasianos deu o veredicto de culpada. O governador Ellis Arnal deu a mais 60 dias para um solicitação de perdão, negada.


Execução
No dia 5 de março de 1945, Lena Baker sentou-se calmamente na cadeira elétrica e disse: "What I done, I did in self-defense. I have nothing against anyone. I'm ready to meet my god". O que significa: O que eu fiz, eu fiz em legítima defesa. Eu não tenho nada contra ningúem. Eu estou pronta para encontrar Deus.


Perdão
Em 2001 a família Baker entrou para tem um pedido de perdão concedido pelo Conselho da Geórgia do perdão e Paroles vendo o veredicto original como racista. Em 2005, 60 anos aós sua morte foi concedido perdão total e incondicional, pois uma sentença de 15 anos teria sido mais apropriada.


Filme
Em 2009, foi lançado o drama com o título original de The Lena Baker Story (Traduzido: A Verdadeira História De Lena Baker) dirigido por Ralph Wilcox.


***

Fonte: Wikipédia

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ICHTHUS











A palavra grega para peixe é ICHTHUS e as suas cinco letras formam o acrônimo grego com a frase:

Iesus Christus Theou Yicus Soter, que quer dizer: Jesus Cristo filho de Deus Salvador.


O desenho de um peixe tornou-se símbolo dos primeiros cristãos que, em tempos de perseguição, o usavam como sinal secreto da fé.

Onde, para um cristão identificar se uma outra pessoa era irmão na fé, desenhava um arco na areia. Se a outra pessoa era cristã, desenhava o arco ao contrário, formando assim, o desenho de um peixe.

Com o passar dos anos a figura do peixe associou-se então ao Cristianismo.



Fonte:http://vidacomdeus.com.br/br/peixe.htm

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Pequeno Príncipe XXVII





















E agora, certamente, já se vão seis anos... Jamais contara essa história. Os camaradas ficaram contentes de ver-me são e salvo. Eu estava triste, mas dizia: É o cansaço...

Agora já me consolei um pouco. Mas não de todo. Sei que ele voltou ao seu planeta; pois, ao raiar do dia, não lhe encontrei o corpo. Não era um corpo tão pesado assim... E gosto, à noite, de escutar as estrelas. Quinhentos milhões de guizos...

Mas eis que sucede uma coisa extraordinária. Na mordaça que desenhei para o príncipezinho, esqueci de juntar a correia! Não poderá jamais prendê-la no carneiro. E eu pergunto então: "Que se terá passado no planeta? Pode bem ser que o carneiro tenha comido a flor...".

Ora eu penso: "Certamente que não! O príncipezinho encerra a flor todas as noites na redoma de vidro e vigia bem o carneiro...". Então, eu me sinto feliz. E todas as estrelas riem docemente.

Ora eu digo: "Uma vez ou outra a gente se distrai e basta isto! Esqueceu uma noite a redoma de vidro ou o carneiro saiu de mansinho, sem que fosse notado...". Então os guizos se transformam todos em lágrimas!...

Eis aí um mistério bem grande. Para vocês, que amam também o príncipezinho, como para mim, todo o universo muda de sentido, se num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não a rosa...

Olhem o céu. Perguntem: Terá ou não terá carneiro comido a flor? E verão como tudo fica diferente...

E nenhuma pessoa grande jamais compreenderá que isso tenha tanta importância!



Esta é, para mim, a mais bela paisagem do mundo, e também a mais triste. É a mesma da página precedente. Mas desenhei-a de novo para mostrá-la bem. Foi aqui que o príncipezinho apareceu na terra, e desapareceu depois.

Olhem atentamente esta paisagem para que estejam certos de reconhecê-la, se viajarem um dia na África, através do deserto. E se acontecer passarem por ali, eu lhes suplico que não tenham pressa e que esperem um pouco bem debaixo da estrela! Se então um menino vem ao encontro de vocês, se ele ri, se tem cabelos de ouro, se não responde quando interrogam, adivinharão quem é. Então, por favor, não me deixem tão triste: Escrevam-me depressa que ele voltou...




***Fim***

O Pequeno Príncipe XXVI

Havia, ao lado do poço, a ruína de um velho muro de pedra. Quando voltei do trabalho, no dia seguinte, vi, de longe, o príncipezinho sentado no alto, com as pernas balançando. E eu o escutei dizer :

- Tu não te lembras então? Não foi bem aqui o lugar!

Uma outra voz devia responder-lhe, porque replicou em seguida:

- Não; não estou enganado. O dia é este, mas não o lugar...

Prossegui o caminho para o muro. Continuava a não ver ninguém. No entanto o príncipezinho replicou novamente:

- ... Está bem. Tu verás onde começa, na areia, o sinal dos meus passos. Basta esperar-me. Estarei ali esta noite.

Eu me achava a vinte metros do muro e continuava a não ver nada. O príncipezinho disse ainda, após um silêncio:

- O teu veneno é do bom? Estás certa de que não vou sofrer muito tempo?

Parei, com o coração apertado, sem compreender ainda.

- Agora, vai-te embora, disse ele... Eu quero descer !



Então baixei os olhos para o pé do muro, e dei um salto! Lá estava, erguida para o príncipezinho, uma dessas serpentes amarelas que nos liquidam num minuto. Enquanto procurava o revólver no bolso, dei uma rápida corrida.

Mas, percebendo o barulho, a serpente se foi encolhendo lentamente, como um repuxo que morre. E, sem se apressar demais, enfiou-se entre as pedras, num leve tinir de metal.

Cheguei ao muro a tempo de receber nos braços o meu caro príncipezinho, pálido como a neve.

- Que história é essa? Tu conversas agora com as serpentes?

Desatei o nó do seu eterno lenço dourado. Umedeci-lhe as têmporas. Dei-lhe água. E agora, não usava perguntar-lhe coisa alguma. Olhou-me gravemente e passou-me os bracinhos no pescoço. Sentia-lhe o coração bater de encontro ao meu, como o de um pássaro que morre atingido pela carabina.

Ele me disse:

- Estou contente de teres descoberto o defeito do maquinismo. Vais poder voltar para casa...

- Como soubeste disso?

Eu vinha justamente anunciar-lhe que, contra toda expectativa, havia realizado o conserto!

Nada respondeu à minha pergunta, mas acrescentou:

- Eu também volto hoje para casa...

Depois, com melancolia, ele disse:

- É bem mais longe... Bem mais difícil...

Eu percebia claramente que algo de extraordinário se passava. Apertava-o nos braços como se fosse uma criancinha; mas tinha a impressão de que ele ia deslizando verticalmente no abismo, sem que eu nada pudesse fazer para detê-lo...

Seu olhar estava sério, perdido ao longe:

- Tenho o teu carneiro. E a caixa para o carneiro. E a mordaça...

Ele sorriu com tristeza.

Esperei muito tempo. Pareceu-me que ele ia se aquecendo de novo, pouco a pouco:

- Meu querido, tu tivesse medo...

É claro que tivera. Mas ele sorriu docemente.

- Terei mais medo ainda esta noite...

O sentimento do irreparável gelou-me de novo. E eu compreendi que não podia suportar a idéia de nunca mais escutar esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.

- Meu bem, eu quero ainda escutar o teu riso...

- Mas ele me disse:

- Faz um ano esta noite. Minha estrela se achará justamente em cima do lugar onde caí o ano passado...

- Meu bem, não será um sonho mau essa história de serpente, de encontro marcado, de estrela?

Mas não respondeu a minha pergunta. E disse:

- O que é importante, a gente não vê...

- A gente não vê...

- Será como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas.

- Todas as estrelas estão floridas.

- Será como a água. Aquela que me deste parecia música, por causa da roldana e da corda... Lembras-te como era boa?

- Lembro-me...

- Tu olharás, de noite, as estrelas. Onde eu moro é muito pequeno, para que eu possa te mostrar onde se encontra a minha. É melhor assim. Minha estrela será então qualquer das estrelas. Gostarás de olhar todas elas... Serão, todas, tuas amigas. E depois, eu vou fazer-te um presente...

Ele riu outra vez.

- Ah! Meu pedacinho de gente, meu amor, como eu gosto de ouvir esse riso!

- Pois é ele o meu presente... Será como a água...

- Que queres dizer?

- As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, era ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém terás estrelas como ninguém...

- Que queres dizer?

- Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir!

E ele riu mais uma vez.

- E quando te houveres consolado (a gente sempre se consola), tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto... E teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: "Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!" E eles te julgarão maluco. Será uma peça que te prego...

- E riu de novo.

- Será como se eu te houvesse dado, em vez de estrelas, montões de guizos que riem...































E riu de novo, mais uma vez. Depois, ficou sério:

- Esta noite... Tu sabes... Não venhas.

- Eu não te deixarei.

- Eu parecerei sofrer... Eu parecerei morrer. É assim. Não venhas ver. Não vale a pena...

- Eu não te deixarei.

Mas ele estava ocupado.

- Eu digo isto... Também por causa da serpente. É preciso que não te morda. As serpentes são más. Podem morder por gosto...

- Eu não te deixarei.

Mas uma coisa o tranquilizou:

- Elas não têm veneno, é verdade, para uma segunda mordida...

Essa noite, não o vi pôr-se a caminho. Evadiu-se sem rumor. Quando consegui apanhá-lo, caminhava decidido, a passo rápido. Disse-me apenas:

- Ah! Estás aqui...

E ele me tomou pela mão. Mas afligiu-se ainda:

- Fizeste mal. Tu sofrerás. Eu parecerei morto e não será verdade...

Eu me calava.

- Mas será uma velha casca abandonada. Uma casca de árvore não é triste...

- Tu compreendes. É longe demais. Eu não posso carregar esse corpo. É muito pesado.































Eu me calava.

- Será tão divertido ! Tu terás quinhentos milhões de guizos, eu terei quinhentos milhões de fontes...

E ele se calou também, porque estava chorando...

- É aqui. Deixa-me dar um passo sozinho.

E sentou-se, porque tinha medo.

Disse ainda:

- Tu sabes... Minha flor... Eu sou responsável por ela! Ela é tão frágil! Tão ingênua ! Tem quatro espinhos de nada para defendê-la do mundo...

Eu sentei-me também, pois não podia mais ficar de pé.

Ele disse:

- Pronto... Acabou-se...

Hesitou ainda um pouco, depois se ergueu. Deu um passo. Eu... Eu não podia mover-me.

Houve apenas um clarão amarelo perto da sua perna. Permaneceu, por um instante, imóvel. Não gritou. Tombou devagarzinho como uma árvore tomba. Nem fez sequer barulho, por causa da areia.




O Pqueno Príncipe XXV

Os homens, disse o príncipezinho, se enfurnam nos rápidos, mas não sabem o que procuram. Então eles se agitam, ficam rodando à toa...

E acrescentou:

- E isso não adianta...

O poço a que tínhamos chegado não se parecia de forma alguma com os poços do Saara. Os poços do Saara são simples buracos na areia. Aquele parecia um poço de aldeia. Mas não havia aldeia alguma, e eu julgava sonhar.

- É estranho, disse eu ao príncipezinho, tudo está preparado: a roldana, o balde e a corda.

Ele riu, pegou a corda, fez girar a roldana. E a roldana gemeu como gemem os velhos cata-ventos quando o vento dormiu por muito tempo.

- Tu escutas? Disse o príncipe. Estamos acordando o poço, ele canta...



Eu não queria que ele fizesse esforço :

- Deixa que eu puxe, disse eu, é muito pesado para o teu tamanho.

Lentamente, icei o balde até em cima, e o instalei com cuidado na borda do poço. Nos meus ouvidos permanecia ainda o canto da roldana, e na água, que ainda brilhava, via tremer o sol.

- Tenho sede dessa água, disse o príncipezinho. Dá-me de beber...

E eu compreendi o que ele havia buscado!

Levantei-lhe o balde até a boca. Ele bebeu, de olhos fechados. Era doce como uma festa. Essa água era muito mais que um alimento. Nascera da caminhada sob as estrelas, do canto da roldana, do esforço do meu braço. Era boa para o coração, como um presente. Quando eu era pequeno, todo o esplendor do presente de Natal estava também na luz da árvore, na música da missa de meia noite, na doçura dos risos...

- Os homens do teu planeta, disse o príncipezinho, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim... E não encontram o que procuram...

- Não encontram, respondi...

- E, no entanto o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa, ou num pouquinho d'água...

- É verdade.

E o príncipezinho acrescentou:

- Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração...

Eu havia bebido. Respirava facilmente. A areia é cor de mel quando amanhece. E a cor de mel me fazia feliz. Por que haveria eu de estar triste?...

- É Preciso, disse baixinho o príncipe, que cumpras a tua promessa. Ele estava, de novo, sentado junto de mim.

- Que promessa?

- Tu sabes... A mordaça do meu carneiro... Eu sou responsável pela flor!

Tirei do bolso as minhas tentativas de desenho. O príncipezinho os viu e disse rindo:

- Teus baobás parecem um pouco repolhos...

- Oh!

Eu estava tão orgulhoso dos meus baobás!

- Tua raposa... As orelhas dela... Parecem chifres... São compridas demais!

Ele riu outra vez.

- Tu és injusto, meu bem, eu só sabia desenhar jibóias abertas e fechadas...

- Não faz mal, disse ele, as crianças entendem.

Rabisquei, portanto uma pequena mordaça. Mas sentia, ao entregá-la, um aperto no coração:

- Tu tens projetos que eu ignoro...

Ele não me respondeu. Mas disse:

Lembras-te da minha queda na Terra? Amanhã será o aniversário...

Depois, após um silêncio, acrescentou:

- Caí pertinho daqui...

E ficou vermelho ao dizê-lo.

E de novo, sem compreender porque, eu sentia um estranho pesar. No entanto, ocorreu-me a pergunta:

- Então não foi por acaso que vagavas sozinho, quando te encontrei, há oito dias, a milhas e milhas de qualquer região habitada! Não estarias voltando ao ponto da queda?

O príncipezinho ficou vermelho de novo.

E eu acrescentei, hesitando:

- Terá sido por causa do aniversário?...

O príncipezinho ficou mais vermelho. Não respondia nunca as perguntas. Mas quando a gente fica vermelho, não é o mesmo que dizer "sim"?

- Ah! Disse-lhe eu, eu tenho medo...

Mas ele respondeu:

- Tu deves agora trabalhar. Ir à busca do teu aparelho. Espero-te aqui. Volta amanhã de tarde...

Mas eu não estava tranquilo. Lembrava-me da raposa. A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...



O Pequeno Príncipe XXIV

Estávamos no oitavo dia de minha pane. Justamente quando bebia a última gota da minha provisão de água, foi que ouvi a história do vendedor.

- Ah! Disse eu ao príncipezinho, são bem bonitas as tuas lembranças, mas eu não consertei ainda meu avião, não tenho mais nada para beber, e eu seria feliz, eu também, se pudesse ir caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte!

- Minha amiga raposa me disse...

- Meu caro, não se trata mais de raposa!

- Por quê?

- Porque vamos morrer de sede...

Ele não compreendeu o meu raciocínio, e respondeu:

- É bom ter tido um amigo, mesmo se a gente vai morrer. Eu estou muito contente de ter tido a raposa por amiga...

Não avalia o perigo, disse eu. Não tem nunca fome ou sede. Um raio de sol lhe basta...

Mas ele também... Procuremos um poço...

- Eu fiz um gesto de desânimo: é absurdo procurar um poço ao acaso, ma imensidão do deserto. No entanto, pesemo-nos a caminho.

Já tínhamos andado horas em silêncio quando a noite caiu e as estrelas começaram a brilhar. Eu as via como em sonho, porque tinha um pouco de febre, por causa da sede. As palavras do príncipezinho dançavam-me na memória:

- Tu tens sede também? Perguntei-lhe.

Mas não respondeu à minha pergunta. Disse apenas:

- A água pode ser boa para o coração...

Não compreendi sua resposta e calei-me... Eu bem sabia que não adiantava interrogá-lo.

Ele estava cansado. Sentou-se. Sentei-me junto dele. E, após um silêncio, disse ainda:

- As estrelas são belas por causa de uma flor que não se vê...

Eu respondi "é mesmo" e fitei, sem falar, a ondulação da areia enluarada.

- O deserto é belo, acrescentou...

E era verdade. Eu sempre amei o deserto. A gente se senta numa duna de areia. Não se vê nada. Não se escuta nada. E, no entanto, no silêncio, alguma coisa irradia...

O que torna belo o deserto, disse o príncipezinho, é que ele esconde um poço nalgum lugar...

Fiquei surpreso por compreender de súbito essa misteriosa irradiação da areia. Quando eu era pequeno, habitava uma casa antiga, e diziam às lendas que ali fora enterrado um tesouro. Ninguém, é claro, o conseguia descobrir, nem talvez mesmo o procurasse. Mas ele encantava a casa toda. Minha casa escondia um tesouro no fundo do coração...

- Quer se trate da casa, das estrelas ou do deserto, disse eu ao príncipezinho, o que faz a sua beleza é invisível!

- Estou contente, disse ele, que estejas de acordo com a raposa.

Como o príncipezinho adormecesse, tomei-o nos braços e prossegui a caminhada. Eu estava comovido. Tinha a impressão de carregar um frágil tesouro. Parecia-me mesmo não haver na Terra nada mais frágil. Considerava, à luz da lua, a fonte pálida, os olhos fechados, as mechas de cabelo que tremiam ao vento. E eu pensava: o que eu vejo não é mais que uma casca. O mais importante é invisível...

Como seus lábios entreabertos esboçassem um sorriso, pensei ainda: « O que tanto me comove nesse príncipe adormecido é sua fidelidade a uma flor; é a imagem de uma rosa que brilha nele como a chama de uma lâmpada, mesmo quando dorme... ». Eu o pressentia então mais frágil ainda. É preciso proteger as lâmpadas com cuidado: um sopro as pode apagar...

E, caminhando assim, eu descobri o poço. O dia estava raiando.

O Pequeno Príncipe XXIII

- Bom dia, disse o príncipezinho.

- Bom dia, disse o vendedor.

Era um vendedor de pílulas aperfeiçoadas que aplacavam a sede. Toma-se uma por semana e não é mais preciso beber.

- Por que vendes isso? Perguntou o príncipezinho.

- É uma grande economia de tempo, disse o vendedor. Os peritos calcularam. A gente ganha cinquenta e três minutos por semana.

- E que se faz, então, com os cinquenta e três minutos?

- O que a gente quiser...

Eu... Pensou o príncipezinho, se tivesse cinquenta e três minutos para gastar, eu iria caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte...




O Pequeno Príncipe XXII

Bom dia, disse o príncipezinho.

- Bom dia, respondeu o guarda-chaves.

- Que fazes aqui? Perguntou-lhe o príncipezinho.

- Eu divido os passageiros em blocos de mil, disse o guarda-chaves. Despacho os trens que os carregam, ora para a direita, ora para a esquerda.

E um rápido iluminado, roncando como um trovão fez tremer a cabine do guarda-chaves.

- Eles estão com muita pressa, disse o príncipezinho. O que é que estão fazendo ?

- Nem o homem da locomotiva sabe, disse o guarda-chaves.

E trovejou, em sentido inverso, um outro rápido iluminado.

- Já estão de volta? Perguntou o príncipezinho...

- Não são os mesmos, disse o guarda-chaves. É uma troca.

- Não estavam contentes onde estavam?

- Nunca estamos contentes onde estamos, disse o guarda-chaves.

E um terceiro rápido, iluminado, trovejou.

- Estão perseguindo os primeiros viajantes? Perguntou o príncipezinho.

- Não perseguem nada, disse o guarda-chaves. Estão dormindo lá dentro, ou bocejando. Só as crianças esmagam o nariz nas vidraças.

- Só as crianças sabem o que procuram, disse o príncipezinho. Perdem tempo com uma boneca de pano, e a boneca se torna muito importante, e choram quando a gente toma...

- Elas são felizes... Disse o guarda-chaves.



quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O Pequeno Principe XXI

E foi então que apareceu a raposa:

- Boa dia, disse a raposa.

- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.

- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...

- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...

- Sou uma raposa, disse a raposa.

- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.

- Ah! desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?

- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?

- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."

- Criar laços?

- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...

- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.

A raposa pareceu intrigada:

- Num outro planeta?

- Sim.

- Há caçadores nesse planeta?

- Não.

- Que bom! E galinhas?

- Também não.

- Nada é perfeito, suspirou a raposa.






















Mas a raposa voltou à sua idéia.

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.

























O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:

- Por favor... cativa-me! disse ela.

- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...

No dia seguinte o principezinho voltou.

- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

- Que é um rito? perguntou o principezinho.

- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!


























Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.

- Vou, disse a raposa.

- Então, não sais lucrando nada!

- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

Depois ela acrescentou:

- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.

Foi o principezinho rever as rosas:

- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.

E as rosas estavam desapontadas.

- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.

E voltou, então, à raposa:

- Adeus, disse ele...

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

O Pequeno Príncipe XX

Mas aconteceu que o principezinho, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas na direção dos homens.

- Bom dia, disse ele.

Era um jardim cheio de rosas.

- Bom dia, disseram as rosas.


















O principezinho contemplou-as. Eram todas iguais à sua flor.

- Quem sois? perguntou ele estupefato.

- Somos rosas, disseram as rosas.

- Ah! exclamou o principezinho...

E ele sentiu-se extremamente infeliz. Sua flor lhe havia contado que ela era a única de sua espécie em todo o universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!

"Ela haveria de ficar bem vermelha, pensou ele, se visse isto... Começaria a tossir, fingiria morrer, para escapar do ridículo. E eu então teria que fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela era bem capaz de morrer de verdade..."

Depois, refletiu ainda: "Eu me julgava rico de uma flor sem igual, e é apenas uma rosa comum que eu possuo. Uma rosa e três vulcões que me dão pelo joelho, um dos quais extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito grande..." E, deitado na relva, ele chorou.






O Pequeno Príncipe XIX

O principezinho escalou uma grande montanha. As únicas montanhas que conhecera eram os três vulcões que lhe davam pelo joelho. O vulcão extinto servia-lhe de tamborete. "De montanha tão alta, pensava ele, verei todo o planeta e todos os homens..." Mas só viu agulhas de pedra, pontudas.

































- Bom dia, disse ele inteiramente ao léu.

- Bom dia... Bom dia... Bom dia... respondeu o eco.

- Quem és tu? perguntou o principezinho.

- Quem és tu... quem és tu... quem és tu... respondeu o eco.

- Sede meus amigos, eu estou só, disse ele.

- Estou só... estou só... estou só, respondeu o eco.

"Que planeta engraçado! pensou então. É todo seco, pontudo e salgado. E os homens não tem imaginação. Repetem o que a gente diz... No meu planeta eu tinha uma flor: e era sempre ela que falava primeiro".

O Pequeno Príncipe XVIII

O principezinho atravessou o deserto e encontrou apenas uma flor. Uma flor de três pétalas, uma florzinha à-tôa...


















Boa dia, disse o príncipe.

- Boa dia, disse a flor.

- Onde estão os homens? perguntou polidamente.

A flor, um dia, vira passar uma caravana:

- Os homens? Eu creio que existem seis ou sete. Vi-os há muitos anos. Mas não se pode nunca saber onde se encontram. O vento os leva. Eles não têm raízes. Eles não gostam das raízes.

- Adeus, disse o principezinho.

- Adeus, disse a flor.

O Pequeno Príncipe XVII

Quando a gente quer fazer graça, mente às vezes um pouco. Não fui lá muito honesto ao lhes falar dos acendedores de lampiões. Corro o risco de dar, àqueles que não conhecem o nosso planeta, uma falsa idéia dele. Os homens ocupam, na verdade, muito pouco lugar na superfície da Terra. Se os dois bilhões de habitantes que povoam a Terra se mantivessem de pé, colados um ao outro, como para um comício, acomodar-se-iam facilmente numa praça pública de vinte milhas de comprimento por vinte de largura. Poder-se-ia ajuntar a humanidade toda na menor das ilhas do Pacífico.

As pessoas grandes não acreditarão, é claro. Elas julgam ocupar muito espaço. Imaginam-se tão importantes como os baobás. Digam-lhes pois que façam o cálculo. Elas adoram os números; ficarão contentes com isso. Mas vocês não percam tempo com esse problema de aritmética. É inútil. Vocês acreditam em mim.

O principezinho, uma vez na Terra, ficou, pois, muito surpreso de não ver ninguém. Já receara ter se enganado de planeta, quando um anel cor de lua remexeu na areia.

- Boa noite, disse o principezinho, inteiramente ao acaso.

- Boa noite, disse a serpente.

- Em que planeta me encontro? perguntou o principezinho.

- Na Terra, na África, respondeu a serpente.

- Ah!... E não há ninguém na Terra?

- Aqui é o deserto. Não há ninguém nos desertos. A Terra é grande, disse a serpente.

O principezinho sentou-se numa pedra e ergueu os olhos para o céu:

- As estrelas são todas iluminadas... Não será para que cada um possa um dia encontrar a sua? Olha o meu planeta: está justamente em cima de nós... Mas como está longe!

- Teu planeta é belo, disse a serpente. Que vens fazer aqui?

- Tive dificuldades com uma flor, disse o príncipe.

- Ah! exclamou a serpente.

E se calaram.




































- Onde estão os homens? repetiu enfim o principezinho. A gente está um pouco só no deserto.

- Entre os homens também, disse a serpente.

O principezinho olhou-a longamente.

- Tu és um bichinho engraçado, disse ele, fino como um dedo...

- Mas sou mais poderosa do que o dedo de um rei, disse a serpente.

O principezinho sorriu.

- Tu não és tão poderosa assim... não tens sequer umas patas... não podes sequer viajar...

- Eu posso levar-te mais longe que um navio, disse a serpente.

Ela enrolou-se na perninha do príncipe, como um bracelete de ouro:

- Aquele que eu toco, eu o devolvo à terra de onde veio, continuou a serpente. Mas tu és puro. Tu vens de uma estrela...

O principezinho não respondeu.

- Tenho pena de ti, tão fraco, nessa Terra de granito. Posso ajudar-te um dia, se tiveres muita saudade do teu planeta. Posso...

- Oh! Eu compreendi muito bem, disse o principezinho. Mas por que falas sempre por enigmas?

- Eu os resolvo todos, disse a serpente.

E calaram-se os dois.

domingo, 3 de janeiro de 2010

O Pequeno Príncipe XVI

O sétimo planeta foi pois a Terra.

























A Terra não é um planeta qualquer! Contam-se lá cento e onze reis (não esquecendo, é claro, os reis negros), sete mil geógrafos, novecentos mil negociantes, sete milhões e meio de beberrões, trezentos e onze milhões de vaidosos - isto é, cerca de dois bilhões de pessoas grandes.

Para dar-lhes uma idéia das dimensões da Terra, eu lhes direi que, antes da invenção da eletricidade, era necessário manter, para o conjunto dos seis continentes, um verdadeiro exército de quatrocentos e sessenta e dois mil, quinhentos e onze acendedores de lampiões.

Isto fazia, visto um pouco de longe, um magnífico efeito. Os movimentos desse exército eram ritmados como os de um balé de ópera. Primeiro vinha a vez dos acendedores de lampiões da Nova Zelândia e da Austrália. Esses, em seguida, acesos os lampiões, iam dormir. Entrava por sua vez a dança dos acendedores de lampiões da China e da Sibéria. E também desapareciam nos bastidores. Vinha a vez dos acendedores de lampiões da Rússia e das Índias. Depois os da África e da Europa. Depois os da América do Sul. Os da América do Norte. E jamais se enganavam na ordem de entrada, quando apareciam em cena. Era um espetáculo grandioso.

Apenas dois, o acendedor do único lampião do Pólo Norte e o seu colega do único lampião do Pólo Sul, levavam vida ociosa e descuidada: trabalhavam duas vezes por ano.

O Pequeno Príncipe XV

O sexto planeta era dez vezes maior. Era habitado por um velho que escrevia livros enormes.























- Bravo! eis um explorador! exclamou ele, logo que viu o principezinho.

O principezinho assentou-se na mesa, ofegante. Já viajara tanto!

- De onde vens? perguntou-lhe o velho.

- Que livro é esse? perguntou-lhe o principezinho. Que faz o senhor aqui?

- Sou geógrafo, respondeu o velho.

- Que é um geógrafo? perguntou o principezinho.

- É um sábio que sabe onde se encontram os mares, os rios, as cidades, as montanhas, os desertos.

É bem interessante, disse o principezinho. Eis, afinal, uma verdadeira profissão! E lançou um olhar em torno de si, no planeta do geógrafo. Nunca havia visto planeta tão majestoso.

- O seu planeta é muito bonito. Haverá oceanos nele?

- Como hei de saber? disse o geógrafo.

- Ah! (O principezinho estava decepcionado.) E montanhas?

- Como hei de saber? disse o geógrafo.

- E cidades, e rios, e desertos?

- Como hei de saber? disse o geógrafo pela terceira vez.

- Mas o senhor é geógrafo!

- É claro, disse o geógrafo; mas não sou explorador. Há uma falta absoluta de exploradores. Não é o geógrafo que vai contar as cidades, os rios, as montanhas, os mares, os oceanos, os desertos. O geógrafo é muito importante para estar passeando. Não deixa um instante a escrivaninha. Mas recebe os exploradores, interroga-os, anota as suas lembranças. E se as lembranças de alguns lhe parecem interessantes, o geógrafo estabelece um inquérito sobre a moralidade do explorador.

- Por que?

- Porque um explorador que mentisse produziria catástrofes nos livros de geografia. Como o explorador que bebesse demais.

- Por que? perguntou o principezinho.

- Porque os bêbados vêem dobrado. Então o geógrafo anotaria duas montanhas onde há uma só.

- Conheço alguém, disse o principezinho, que seria um mau explorador.

- É possível. Pois bem, quando a moralidade do explorador parece boa, faz-se uma investigação sobre a sua descoberta.

- Vai-se ver?

- Não. Seria muito complicado. mas exige-se do explorador que ele forneça provas. Tratando-se, por exemplo, de uma grande montanha, ele trará grandes pedras.

O geógrafo, de súbito, se entusiasmou:

- Mas tu vens de longe. Tu és explorador! Tu me vais descrever o teu planeta!

E o geógrafo, tendo aberto o seu caderno, apontou o seu lápis. Anotam-se primeiro a lápis as narrações dos exploradores. Espera-se, para cobrir à tinta, que o explorador tenha fornecido provas.

- Então? interrogou o geógrafo.

- Oh! onde eu moro, disse o principezinho, não é interessante: é muito pequeno. Eu tenho três vulcões. Dois vulcões em atividade e um vulcão extinto. A gente nunca sabe...

- A gente nunca sabe, repetiu o geógrafo.

- Tenho também uma flor.

- Mas nós não anotamos as flores, disse o geógrafo.

- Por que não? É o mais bonito!

- Porque as flores são efêmeras.

- Que quer dizer "efêmera"?

- As geografias, disse o geógrafo, são os livros de mais valor. Nunca ficam fora de moda. É muito raro que um monte troque de lugar. É muito raro um oceano esvaziar-se. Nós escrevemos coisas eternas.

- Mas os vulcões extintos podem se reanimar, interrompeu o principezinho. Que quer dizer "efêmera"?

- Que os vulcões estejam extintos ou não, isso dá no mesmo para nós, disse o geógrafo. O que nos interessa é a montanha. Ela não muda.

- Mas que quer dizer "efêmera"? repetiu o principezinho, que nunca, na sua vida, renunciara a uma pergunta que tivesse feito.

- Quer dizer "ameaçada de próxima desaparição".

- Minha flor estará ameaçada de próxima desaparição?

- Sem dúvida.

Minha flor é efêmera, disse o principezinho, e não tem mais que quatro espinhos para defender-se do mundo! E eu a deixei sozinha!

Foi seu primeiro movimento de remorso. Mas retomou coragem:

- Que me aconselha a visitar? perguntou ele.

- O planeta Terra, respondeu-lhe o geógrafo. Goza de grande reputação...

E o principezinho se foi, pensando na flor.

O Pequeno Príncipe XIV

O quinto planeta era muito curioso. Era o menor de todos. Mal dava para um lampião e o acendedor de lampiões...






























O principezinho não podia atinar para que pudessem servir, no céu, num planeta sem casa e sem gente, um lampião e o acendedor de lampiões. No entanto, disse consigo mesmo:

- Talvez esse homem seja mesmo absurdo. No entanto, é menos absurdo que o rei, que o vaidoso, que o homem de negócios, que o beberrão. Seu trabalho ao menos tem um sentido. Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apaga, porém, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E é útil, porque é bonita.

Quando abordou o planeta, saudou respeitosamente o acendedor:

- Bom dia. Por que acabas de apagar teu lampião?

- É o regulamento, respondeu o acendedor. Bom dia.

- Que é o regulamento?

- É apagar meu lampião. Boa noite.

E tornou a acender.

- Mas por que acabas de o acender de novo?

- É o regulamento, respondeu o acendedor.

- Eu não compreendo, disse o principezinho.

- Não é para compreender, disse o acendedor. Regulamento é regulamento. Bom dia.

E apagou o lampião.

Em seguida enxugou a fronte num lenço de quadrinhos vermelhos.

- Eu executo uma tarefa terrível. Antigamente era razoável. Apagava de manhã e acendia à noite. Tinha o resto do dia para descansar e o resto da noite para dormir...

- E depois disso, mudou o regulamento?

- O regulamento não mudou, disse o acendedor. Aí é que está o drama! O planeta de ano em ano gira mais depressa, e o regulamento não muda!

- E então? disse o principezinho.

- Agora, que ele dá uma volta por minuto, não tenho mais um segundo de repouso. Acendo e apago uma vez por minuto!

- Ah! que engraçado! Os dias aqui duram um minuto!

- Não é nada engraçado, disse o acendedor. Já faz um mês que estamos conversando.

- Um mês?

- Sim. Trinta minutos. Trinta dias. Boa noite.

E ascendeu o lampião.

O principezinho considerou-o, e amou aquele acendedor tão fiel ao regulamento. Lembrou-se dos pores-do-sol que ele mesmo produzia, recuando um pouco a cadeira. Quis ajudar o amigo.

- Sabes? Eu sei de um modo de descansar quando quiseres...

- Eu sempre quero, disse o acendedor.

Pois a gente pode ser, ao mesmo tempo, fiel e preguiçoso.

E o principezinho prosseguiu:

- Teu planeta é tão pequeno, que podes, com três passos, dar-lhe a volta. Basta andares lentamente, bem lentamente, de modo a ficares sempre ao sol. Quando quiseres descansar, caminharás... e o dia durará quanto queiras.

- Isso não adianta muito, disse o acendedor. O que eu gosto mais na vida é de dormir.

- Então não há remédio, disse o principezinho.

- Não há remédio, disse o acendedor. Bom dia.

E apagou seu lampião.

Esse aí, disse para si o principezinho, ao prosseguir a viagem para mais longe, esse aí seria desprezado por todos os outros, o rei, o vaidoso, o beberrão, o homem de negócios. No entanto, é o único que não me parece ridículo. Talvez porque é o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele próprio.

Suspirou de pesar e disse ainda:

- Era o único que eu podia ter feito meu amigo. Mas seu planeta é mesmo pequeno demais. Não há lugar para dois...

O que o principezinho não ousava confessar é que os mil quatrocentos e quarenta pores-do-sol em vinte e quatro horas davam-lhe certa saudade do abençoado planeta.

O Pequeno Príncipe XIII

O quarto planeta era o do homem de negócios. Estava tão ocupado que não levantou sequer a cabeça à chegada do príncipe.
























Bom dia, disse-lhe este. O seu cigarro está apagado.

- Três e dois são cinco. Cinco e sete, doze. Doze e três, quinze. Bom dia. Quinze e sete, vinte e dois. Vinte e dois e seis, vinte e oito. Não há tempo para acender de novo. Vinte e seis e cinco, trinta e um. Uf! São pois quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e dois mil, setecentos e trinta e um.

- Quinhentos milhões de quê?

- Hem? Ainda estás aqui? Quinhentos e um milhões de... eu não sei mais... Tenho tanto trabalho. Sou um sujeito sério, não me preocupo com ninharias! Dois e cinco, sete...

- Quinhentos milhões de quê? repetiu o principezinho, que nunca na sua vida renunciara a uma pergunta, uma vez que a tivesse feito.

O homem de negócios levantou a cabeça:

- Há cinqüenta e quatro anos que habito este planeta e só fui incomodado três vezes. A primeira vez foi há vinte e dois anos, por um besouro caído não sei de onde. Fazia um barulho terrível, e cometi quatro erros na soma. A segunda foi há onze anos, por uma crise de reumatismo. Falta de exercício. Não tenho tempo para passeio. Sou um sujeito sério. A terceira... é esta! Eu dizia, portanto, quinhentos e um milhões...

- Milhões de quê?

O homem de negócios compreendeu que não havia esperança de paz:

- Milhões dessas coisinhas que se vêem às vezes no céu.

- Moscas?

- Não, não. Essas coisinhas que brilham.

- Abelhas?

- Também não. Essas coisinhas douradas que fazem sonhar os ociosos. Eu cá sou um sujeito sério. Não tenho tempo para divagações.

- Ah! estrelas?

- Isso mesmo. Estrelas.

- E que fazes tu de quinhentos milhões de estrelas?

- Quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e duas mil, setecentos e trinta e uma. Eu sou um sujeito sério. Gosto de exatidão.

- O que fazes tu dessas estrelas?

- Que faço delas?

- Sim.

- Nada. Eu as possuo.

- Tu possuis as estrelas?

- Sim.

- Mas eu já vi um rei que...

- Os reis não possuem. Eles "reinam" sobre. É muito diferente.

- E de que te serve possuir as estrelas?

- Servem-me para ser rico.

- E para que te serve ser rico?

- Para comprar outras estrelas, se alguém achar.

Esse aí, disse o principezinho para si mesmo, raciocina um pouco como o bêbado.

No entanto, fez ainda algumas perguntas.

- Como pode a gente possuir as estrelas?

- De quem são elas? respondeu, ameaçador, o homem de negócios.

- Eu não sei. De ninguém.

- Logo são minhas, porque pensei primeiro.

- Basta isso?

- Sem dúvida. Quando achas um diamante que não é de ninguém, ele é teu. Quando achas uma ilha que não é de ninguém, ela é tua. Quando tens uma idéia primeiro, tua a fazes registrar: ela é tua. E quanto a mim, eu possuo as estrelas, pois ninguém antes de mim teve a idéia de as possuir.

- Isso é verdade, disse o principezinho. E que fazes tu com elas?

- Eu as administro. Eu as conto e reconto, disse o homem de negócios. É difícil. Mas eu sou um homem sério!

O principezinho ainda não estava satisfeito.

- Eu, se possuo um lenço, posso colocá-lo em torno do pescoço e levá-lo comigo. Se possuo uma flor, posso colher a flor e levá-la comigo. Mas tu não podes colher as estrelas.

- Não. Mas eu posso colocá-las no banco.

- Que quer dizer isto?

- Isso quer dizer que eu escrevo num papelzinho o número das minhas estrelas. Depois tranco o papel à chave numa gaveta.

- Só isto?

- E basta...

É divertido, pensou o principezinho. É bastante poético. Mas não é muito sério.

O principezinho tinha, sobre as coisas sérias, idéias muito diversas das idéias das pessoas grandes.

- Eu, disse ele ainda, possuo uma flor que rego todos os dias. Possuo três vulcões que revolvo toda semana. Porque revolvo também o que está extinto. A gente nunca sabe. É útil para os meus vulcões, é útil para a minha flor que eu os possua. Mas tu não és útil às estrelas...

O homem de negócios abriu a boca, mas não achou nada a responder, e o principezinho se foi...

As pessoas grandes são mesmo extraordinárias, repetia simplesmente no percurso da viagem.

O Pequeno Príncipe XII

O planeta seguinte era habitado por um bêbado. Esta visita foi muito curta, mas mergulhou o principezinho numa profunda melancolia.



















- Que fazes aí? perguntou ao bêbado, silenciosamente instalado diante de uma coleção de garrafas vazias e uma coleção de garrafas cheias.

- Eu bebo, respondeu o bêbado, com ar lúgubre.

- Por que é que bebes? perguntou-lhe o principezinho.

- Para esquecer, respondeu o beberrão.

- Esquecer o quê? indagou o principezinho, que já começava a sentir pena.

- Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a cabeça.

- Vergonha de quê? investigou o principezinho, que desejava socorrê-lo.

- Vergonha de beber! concluiu o beberrão, encerrando-se definitivamente no seu silêncio.

E o principezinho foi-se embora, perplexo.

As pessoas grandes são decididamente muito bizarras, dizia de si para si, durante a viagem.

O Pequeno Príncipe XI

O segundo planeta, um vaidoso o habitava.

- Ah! Ah! Um admirador vem visitar-me! exclamou de longe o vaidoso, mal vira o príncipe.

Porque, para os vaidosos, os outros homens são sempre admiradores.

- Bom dia, disse o principezinho. Você tem um chapéu engraçado.

- É para agradecer, exclamou o vaidoso. Para agradecer quando me aclamam. Infelizmente não passa ninguém por aqui.

- Sim? disse o principezinho sem compreender.

- Bate as mãos uma na outra, aconselhou o vaidoso.

O principezinho bateu as mãos uma na outra. O vaidoso agradeceu modestamente, erguendo o chapéu.



































- Ah, isso é mais divertido que a visita ao rei, disse consigo mesmo o principezinho. E recomeçou a bater as mãos uma na outra. O vaidoso recomeçou a agradecer, tirando o chapéu.

Após cinco minutos de exercício, o principezinho cansou-se com a monotonia do brinquedo:

- E para o chapéu cair, perguntou ele, que é preciso fazer?

Mas o vaidoso não ouviu. Os vaidosos só ouvem os elogios.

- Não é verdade que tu me admiras muito? perguntou ele ao principezinho.

- Que quer dizer admirar?

- Admirar significa reconhecer que eu sou o homem mais belo, mais rico, mais inteligente e mais bem vestido de todo o planeta.

- Mas só há você no seu planeta!

- Dá-me esse gosto. Admira-me mesmo assim!

- Eu te admiro, disse o principezinho, dando de ombros. Mas como pode isso interessar-te?

E o principezinho foi-se embora.

As pessoas grandes são decididamente muito bizarras, ia pensando ele pela viagem afora.

O Pequeno Príncipe X

Ele se achava na região dos asteróides 325, 326, 327, 328, 329, 330. Começou, pois, a visitá-los, para procurar uma ocupação e se instruir.

O primeiro era habitado por um rei. O rei sentava-se, vestido de púrpura e arminho, num trono muito simples, posto que majestoso.





























Ah! Eis um súdito, exclamou o rei ao dar com o principezinho.

E o principezinho perguntou a si mesmo:

- Como pode ele reconhecer-me, se jamais me viu?

Ele não sabia que, para os reis, o mundo é muito simplificado. Todos os homens são súditos.

- Aproxima-te, para que eu te veja melhor, disse o rei, todo orgulhoso de poder ser rei para alguém.

O principezinho procurou com olhos onde sentar-se, mas o planeta estava todo atravancado pelo magnífico manto de arminho. Ficou, então, de pé. Mas, como estava cansado, bocejou.

- É contra a etiqueta bocejar na frente do rei, disse o monarca, Eu o proíbo.

- Não posso evitá-lo, disse o principezinho confuso. Fiz uma longa viagem e não dormi ainda...

- Então, disse o rei, eu te ordeno que bocejes. Há anos que não vejo ninguém bocejar! Os bocejos são uma raridade para mim. Vamos, boceja! É uma ordem!

- Isso me intimida... eu não posso mais... disse o principezinho todo vermelho.

- Hum! Hum! respondeu o rei. Então... então eu te ordeno ora bocejares e ora...

Ele gaguejava um pouco e parecia vexado.

Porque o rei fazia questão fechada que sua autoridade fosse respeitada. Não tolerava desobediência. Era um monarca absoluto. Mas, como era muito bom, dava ordens razoáveis.

"Se eu ordenasse, costumava dizer, que um general se transformasse em gaivota, e o general não me obedecesse, a culpa não seria do general, seria minha".

- Posso sentar-me? interrogou timidamente o principezinho.

- Eu te ordeno que te sentes, respondeu-lhe o rei, que puxou majestosamente um pedaço do manto de arminho.

Mas o principezinho se espantava. O planeta era minúsculo. Sobre quem reinaria o rei?

- Majestade... eu vos peço perdão de ousar interrogar-vos...

- Eu te ordeno que me interrogues, apressou-se o rei a declarar.

- Majestade... sobre quem é que reinas?

- Sobre tudo, respondeu o rei, com uma grande simplicidade.

- Sobre tudo?

O rei, com um gesto discreto, designou seu planeta, os outros, e também as estrelas.

- Sobre tudo isso?

- Sobre tudo isso... respondeu o rei.

Pois ele não era apenas um monarca absoluto, era também um monarca universal.

- E as estrelas vos obedecem?

- Sem dúvida, disse o rei. Obedecem prontamente. Eu não tolero indisciplina.

Um tal poder maravilhou o principezinho. Se ele fosse detentor do mesmo, teria podido assistir, não a quarenta e quatro, mas a setenta e dois, ou mesmo a cem, ou mesmo a duzentos pores-do-sol no mesmo dia, sem precisar sequer afastar a cadeira! E como se sentisse um pouco triste à lembrança do seu pequeno planeta abandonado, ousou solicitar do rei uma graça:

- Eu desejava ver um pôr-do-sol... Fazei-me esse favor. Ordenai ao sol que se ponha...

- Se eu ordenasse a meu general voar de uma flor a outra como borboleta, ou escrever uma tragédia, ou transformar-se em gaivota, e o general não executasse a ordem recebida, quem - ele ou eu - estaria errado?

- Vós, respondeu com firmeza o principezinho.

- Exato. É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar, replicou o rei. A autoridade repousa sobre a razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, farão todos revolução. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis.

- E meu pôr-do-sol? lembrou o principezinho, que nunca esquecia a pergunta que houvesse formulado.

- Teu pôr-do-sol, tu o terás. Eu o exigirei. Mas eu esperarei, na minha ciência de governo, que as condições sejam favoráveis.

- Quando serão? indagou o principezinho.

- Hem? respondeu o rei, que consultou inicialmente um grosso calendário. Será lá por volta de... por volta de sete horas e quarenta, esta noite. E tu verás como sou bem obedecido.

O principezinho bocejou. Lamentava o pôr-do-sol que perdera. E depois, já estava se aborrecendo um pouco!

- Não tenho mais nada que fazer aqui, disse ao rei. Vou prosseguir minha viagem.

- Não partas, respondeu o rei, que estava orgulhoso de ter um súdito. Não partas: eu te faço ministro!

- Ministro de quê?

- Da... da justiça!

- Mas não há ninguém a julgar!

- Quem sabe? disse o rei. Ainda não dei a volta no meu reino. Estou muito velho, não tenho lugar para carruagem, e andar cansa-me muito.

- Oh! Mas eu já vi, disse o príncipe que se inclinou para dar ainda uma olhadela do outro lado do planeta. Não consigo ver ninguém...

- Tu julgarás a ti mesmo, respondeu-lhe o rei. É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues julgar-te bem, eis um verdadeiro sábio.

- Mas eu posso julgar-me a mim próprio em qualquer lugar, replicou o principezinho. Não preciso, para isso, ficar morando aqui.

- Ah! disse o rei, eu tenho quase certeza de que há um velho rato no meu planeta. Eu o escuto de noite. Tu poderás julgar esse rato. Tu o condenarás à morte d vez em quando: assim a sua vida dependerá da tua justiça. Mas tu o perdoarás cada vez, para economizá-lo. Pois só temos um.

- Eu, respondeu o principezinho, eu não gosto de condenar à morte, e acho que vou mesmo embora.

- Não, disse o rei.

Mas o principezinho, tendo acabado os preparativos, não quis afligir o velho monarca:

- Se Vossa Majestade deseja ser prontamente obedecido, poderá dar-me uma ordem razoável. Poderia ordenar-me, por exemplo, que partisse em menos de um minuto. Parece-me que as condições são favoráveis.

Como o rei não disse nada, o principezinho hesitou um pouco; depois suspirou e partiu.

- Eu te faço meu embaixador, apressou-se o rei em gritar.

Tinha um ar de grande autoridade.

As pessoas grandes são muito esquisitas, pensava, durante a viagem, o principezinho.