sexta-feira, 23 de julho de 2010

Poder






















Os antigos, escreve Jean Bodin (1530-1596), chamavam de República uma sociedade de homens reunidos para viverem bem e felizes. Mas será mesmo este o objetivo de uma República? Para autores modernos como Jean Bodin e Thomas Hobbes (1588-1679), as Repúblicas só podem cuidar das virtudes morais quando estão amparadas quanto ao que lhes é necessário, o econômico passa antes do ético. Esta é a primeira diferença entre a concepção moderna e a antiga da Cidade. A segunda aparece na definição que Bodin faz da República: reto governo de várias famílias e do que lhes é comum, havendo um poder soberano. O que supõe que se reconheça às famílias, às atividades privadas dos homens, uma existência própria - e mesmo, de direito, prévia à Cidade. Mas é preciso, acrescenta Bodin, que haja alguma coisa de comum e pública: como o domínio público, o erário público, as ruas, as muralhas... as leis, os costumes, a justiça... as penas..., pois não existe República se não há nada público.



Contudo, este espaço público é habitado por indivíduos ou grupos (famílias) que, em sua dispersão, nunca constituiriam, sozinhos, uma comunidade entendida como um corpo único. Os indivíduos formam apenas uma multidão, quer dizer, um número de homens distinto pelo lugar das suas residências, como o povo da Inglaterra ou o povo da França (Hobbes). Ora, nesse estágio (ideal) de mera congregação geograficamente determinada, o povo não é um corpo político. Ainda precisa de uma instância que coordene e unifique os indivíduos. É aqui que intervém a noção de potência. A República, sem potência soberana que uma todos os membros e partes, e todas as famílias e colégios, num corpo, já não é mais República (Bodin). Estamos, então em condições de compreender o que é, este grande Leviatã que é chamado de República ou Estado (Hobbes). O que é ele? Um homem artificial, um genial e gigantesco autômato, criado para defesa e proteçãodos homens naturais.


Fonte
LEBRUN, Gerard. O que é poder. São Paulo: Abril Cultural/Brasiliense, 1984.

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