sábado, 13 de fevereiro de 2010

YES, nós temos CAJU














Pense na região que hoje corresponde à Itália, ou em Portugal e em seus pratos típicos. O que você escolheria: uma boa massa com molho de tomates? Uma polenta? Ou uma bacalhoada com batatas? Penso agora nos habitantes dessas mesmas regiões há 500 anos. O que eles poderiam ter para jantar?
Com certeza não seria nada que levasse tomate, milho ou batata, pois essas plantas são originárias das Américas e foram levadas daqui pelos europeus.
vejamos como estudos de História da Ciência podem ajudar a conhecer a origem das plantas.


A VIAGEM DAS PLANTAS

As plantas viajaram muito nos últimos 500 aos depois da chegada dos europeus ao que se chamou de América. Por um lado, a curiosidade impelia os viajantes a enviarem para o "velho" mundo o "exótico" aqui encontrado. Por outro, os colonos, movidos pela necessidade de sobreviver, procuraram, ale´m de conher o que a
'nova' terra tinha a oferecer, plantar aqui mudas e sementes do que estavam acostumados a utilizar na Europa. Com isso, o 'mapa das plantas' se modificou ao longo dos séculos, transformando também costumes alimentares e estabelecendo outros.
Muitas das plantas trazidas ao Brasil adapatam-se muito bem, causando surpresas aos novos habitantes. É o caso de Gabriel Soares de Sousa, um habitante da Bahia que em seu tratado Descritivo do Brasil, em 1587 nos fala de árvores frutíferas que tinham num mesmo pé flores, frutos verdes e maduros.
Essa impressionate faclidade de adapção também levou estudiosos das plantas no Brasil a equívocos. Assim, em 1812, Bernardino Antonio Gomes diz existir uma espécie brasileira de jaca, planta que é originária da Àsia.
Alguns outros exemplos de frutas de fácil adaptação ao solo brasileiro são: as mangas, as carambolas, as frutas cítricas em geral, o café e... a banana.
Aliás, o caso da banana ainda não está resolvido, pois alguns estudiosos consideram todas as espécies como vindas do Oriente, enquanto outros acham que ao menos um tipo - a banana-pão, geralmente comida cozida ou assada e que recebe o nome de 'pacova' em língua indígena- foi encontrada pelos portugueses no 'Novo mundo'.
Justamente o último exemplo nos leva a uma questão importante:como saber de onde uma planta é originária?
Tem-se curiosidade do homemde ciência que sempre quer montar um mapa do mundo onde vive, mas também uma questão prática:sabendo de onde provêm certos vegetais- ou seja, as características do meio original será mais provável ter sucesso nas tentativas de adaptação ou naturalização de outros. Assim, estabeleceram-se maneiras de determinar o local de origem das principais plantas cultivadas.

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A PROPOSTA DE ALPHONSE DE CANDOLLE (1806-1893)

O estudioso suíço Alphonse de Candolle escreveu duas obras inportantes sobre as plantase seu deslocamento sobre o globo: Geografia Botânica,(1855) e Origem das plantas cultivadas (1886). Para descobrir " entre inumeráveis variedades, a que se pode considerar a mais antiga e ver de que região do globo ela saiu", ele propunha a aplicação de diferentes meios e procedimentos. Quanto maior o número de dados obtidos e a possibilidade de entrecruzá-los, mais precisos poderiam sero os resultados.
A Botãnica propricia um dos meios mais diretos para conhecimento a origem geográfica de uma espécie, posi poderia informar onde a planta crescia espontaneamente, em estado selvagem (ou seja, sem os cuidados do homem) e desde quando isso se dava.
outro meio de se conhecer a antiguidade de um vegetal era fornecido pela Arqueologia associada à Paleontologia forneceria dados sobre grãos e fragmentos de plantas obtidos em diferentes sítios, a Paleontologia trataria de desenhos dos diferentes vegetais.
A História daria conta do terceiro método ao permitir datar o cultivo de plantas em cada lugar e sua propagação através de migrações dos povos antigos, das viagens ou das expedições militares. O estudo dos relatos pode fornecer a data mais antiga em que uma planta é citada e daí se pode concluir acerca de sua origem. Esse tipo de material tem sido bastnate usado até hoje como auxiliar na determinação das origens das plantas.
A quarta área do conhecimento, mencionada o texto de De Candolle, era linguística. Ou seja, conhecer a maneira de se referir a uma planta poderia informar sobr eo local de onde ela provinha. Assim, um nome composto indicaria que o vegetal não é originário da região. Tomate, por exemplo, é denominado 'pomodòro' (maçã de ouro) em italiano e a batata é chamada pelos franceses de 'pomme de terra' (maça da terra).
Nos dois casos a denominação dos vegetais levados das Américas foi feita relativamente a algo que conheciam bem: a maçã.
Hoje, outros métodos - como são os estudos fotoquímicos e de determinação de DNA - associam-se a estes descritos por DE Candolle na busca das origens das plantas.
O estudo de textos como os de De Candolle - realizado pela História da Ciência - permite conhecer como se pensavam questões relativas à origens das plantas em diferentes períodos.
E pode, ainda, auxiliar a elaborar outros métodos de determinação das origens das plantas.
De toda forma, quando você quiser se referir a algo genuinamente brasileiro, não use a estrofe da canção de Aberto Ribeiro e João de Barro e imortalizada por Carmen Miranda: " Yes, nós temos a banana", pois nem todos concordariam com isso. Talvez melhor fosse dizer: " Yes, nós temos caju. Pois, aplicados os diferentes métodos propostos por De Candolle, encontrou-se como sua origem o Nordeste do Brasil. Essa planta mantém em outras línguas nomes que lembram de perto a denominação de origem tupi: aka'yu, ao ser chamda de cashew, kajunuss, acajou ou caju ( em inglês, alemão, francês e espanhol, respectivamente).

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Referências:

AFONSO- GOLDFARB, A.M. O que é História da Ciência. São Paulo: Brasiliense,2004.
FERRÃO, J.E.M A aventura das plantas e od descobrimentos portugueses. Lisboa:Iv. Científica Tropical, 1994.
FERRAZ, M.H.M. As ciências em Portugal e no Brasil. (1772- 1822). São Paulo: Educ/FAPESP, 1997.
PRESTES, M.E.B A insvestigação da natureza no Brasil -Colônia. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2000.
Diversos artigos dpo Prof. A González Bueno, sobre plantas americanas podem ser consultados em : http:/www.pucsp.br/pos/cesima/seminarios2002.html

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MÁRCIA H.M. FERRAZ cursa a Pós - Graduação em História da Ciência/ Cesima- Centro Simão Mathias - PUC-SP

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