sábado, 3 de julho de 2010
A criação de Crepúsculo
Recebi uma tonelada de perguntas sobre como criei a história de Crepúsculo e como consegui publicá-la. Pode ser que eu acabe com minha página de FAQ, mas aqui está a história completa:
(Advertência 1: existem referências a várias passagens de Crepúsculo no que se segue; se não quiser estragar o suspense, pare de ler... agora. Advertência 2: Como pode ter imaginado pelo tamanho de meu livro, eu não consigo contar uma história curta... Isso vai levar algum tempo. Agora estão avisados.)
A Redação: Sei exatamente a data em que comecei a escrever Crepúsculo, porque também foi o primeiro dia das aulas de natação de meus filhos. Então posso dizer sem dúvida nenhuma que tudo começou em 2 de junho de 2003. Até essa altura, eu não tinha escrito nada além de alguns capítulos (de outras histórias) que nunca levei adiante, e absolutamente nada desde o nascimento de meu primeiro filho, seis anos antes.
Eu acordei (naquele 2 de junho) de um sonho muito nítido. Em meu sonho, duas pessoas tinham uma conversa intensa numa campina no bosque. Uma das pessoas era uma menina comum. A outra era incrivelmente bonita, faiscava e era um vampiro. Eles discutiam as dificuldades inerentes aos fatos de que: A) eles estavam apaixonados um pelo outro; e B) o vampiro sentia-se particularmente atraído pelo cheiro do sangue da menina e tinha dificuldades para se conter e não matá-la imediatamente. (Para o que é essencialmente uma transcrição de meu sonho, veja por favor o Capítulo 13 do livro: "Confissões").
Embora eu tivesse milhões de coisas para fazer (isto é, preparar o café-da-manhã para as crianças famintas, vestir e trocar suas fraldas, encontrar os trajes de banho que ninguém jamais colocava no lugar certo etc.), continuei na cama, pensando no sonho. Fiquei tão intrigada com a história do casal sem nome que odiei a idéia de me esquecer daquilo; era o tipo de sonho que lhe dá vontade de ligar para uma amiga e encher a paciência dela com uma descrição detalhada. (Além disso, o vampiro era tão tremendamente bonito que eu não queria perder a imagem mental.) De má vontade, por fim me levantei e resolvi o que era imediato, depois adiei tudo o que podia e me sentei ao computador para escrever - algo que eu não fazia havia tanto tempo que me perguntei por que estava me dando aquele trabalho. Mas eu não queria perder o sonho, então digitei o máximo do que lembrava, chamando os personagens de "ele" e "ela".
Desse ponto em diante, não se passou um dia sem que eu não escrevesse alguma coisa. Nos dias ruins, só digitava uma ou duas páginas; nos dias bons, terminava um capítulo e, mais tarde, outros. Escrevia principalmente à noite, depois que as crianças estavam dormindo, para poder me concentrar por mais de cinco minutos sem ser interrompida. Comecei pela cena na campina e escrevi dali para o final. Depois voltei ao início e escrevi até que as peças se encaixassem. Cheguei ao "fio" que os unia no final de agosto, três meses depois.
Levei algum tempo para batizar a dupla anônima. Para meu vampiro (por quem eu me apaixonei desde o primeiro dia) decidi usar um nome que antigamente era considerado romântico, mas tinha perdido popularidade havia décadas. O Sr. Rochester, de Charlotte Brönte, e o Sr. Ferrars, de Jane Austen, foram os personagens que me levaram a lhe dar o nome de Edward. Experimentei seu formato e descobri que combinava. Minha protagonista foi mais complicada. Nenhum nome que lhe dava parecia correto. Depois de passar muito tempo com ela, eu a amava como a uma filha e nenhum nome era bom. Por fim, inspirada por esse amor, dei-lhe o nome que estava poupando para minha filha, que nunca veio e era improvável que, aquela altura, aparecesse: Isabella. Ufa! Edward e Bella foram batizados. Para os demais personagens, fiz muita pesquisa em antigos registros de recenseamento, procurando por nomes populares na época em que eles nasceram. Algumas trivialidades: Rosalie originalmente era "Carol" e Jasper era, no começo, "Ronald". Gosto muito mais dos nomes novos, mas de vez em quando tenho um lapso e digito Carol ou Ron por acaso. Isso confunde as pessoas que lêem meus originais.
Para a ambientação, sabia que precisava de um lugar ridiculamente chuvoso. Recorri ao Google, como faço quando preciso pesquisar, e procurei pelo lugar com o maior índice pluviométrico dos Estados Unidos. Por acaso era a Península de Olympic, no estado de Washington. Consegui mapas da região e os examinei, procurando por algo pequeno, fora de mão, cercado pela floresta... E lá estava, bem onde eu queria, uma cidadezinha chamada "Forks". Eu mesma não poderia ter escolhido um nome mais perfeito. Fiz uma busca por imagens da região no Google e, se o nome já não tivesse me agradado, as lindas fotos teriam conseguido isso. (Imagens como a da Floresta Hoh - a uma curta viagem de Forks. Ver também forksweb.com. Ao procurar Forks, encontrei a Reserva La Push, lar da tribo quileute. A história dos quileutes é fascinante e alguns membros fictícios da tribo rapidamente tornaram-se essenciais ao livro.
Em todo esse tempo, Bella e Edward eram, bem literalmente, vozes em minha cabeça. Eles simplesmente não calavam a boca. Eu ficava acordada até tarde, ao máximo que podia, tentando colocar no computador tudo que havia em minha mente e depois me arrastava, exausta, para a cama (meu bebê ainda não estava dormindo a noite toda) e acabava começando outra conversa em minha cabeça. Eu odiaria perder tudo por esquecimento, então me levantava e voltava ao computador. Por fim, levei uma caneta e um caderno para minha mesa de cabeceira para tomar notas, assim poderia dormir um pouco. Era sempre um desafio empolgante, de manhã, tentar decifrar os garranchos que tinha feito no escuro.
Durante o dia também não conseguia me afastar do computador. Quando estava presa nas aulas de natação, sob um sol de 46 graus em Phoenix, eu bolava a trama e voltava para casa com tanta coisa nova que não conseguia digitar com rapidez suficiente. Era nosso típico verão no Arizona, quente, ensolarado, quente, ensolarado e quente, mas, quando penso naquelas três meses, lembro-me da chuva e de coisas verdes e frias, como se eu realmente tivesse passado o verão na floresta de Olympic.
Quando terminei o corpo do romance, comecei a escrever epílogos... muitos epílogos. Isso enfim me deu a dica de que eu não estava pronta para abandonar meus personagens, e comecei a escrever uma seqüência. Enquanto isso, continuei a editar Crepúsculo de uma forma totalmente obsessivo-compulsiva.
Minha irmã mais velha, Emily, era a única que sabia realmente o que eu andava aprontando. Em junho, comecei a lhe mandar os capítulos à medida que os concluía, e ela logo se transformou em minha torcida. Ela sempre me procurava para saber se eu tinha alguma coisa nova. Foi Emily quem sugeriu, depois que terminei, que eu devia tentar publicarCrepúsculo. Eu estava tão pasma com o fato de realmente ter terminado um livro inteirinho que decidi investigar.
A Publicação: Para não dizer coisa pior, eu era ingênua a respeito da publicação de um livro. Pensei que funcionasse assim: você imprimia uma cópia do romance, embrulhava em papel pardo e mandava a uma editora. Rá, rá, rá, essa é boa. Comecei pelo Google (naturalmente) e comecei também a descobrir que não era assim que se fazia. (Os filmes mentem para nós! Por quê?! Uma observação: você não vai gostar da nova versão de Steve Martin de Doze é demais quando souber como o cenário editorial que está no filme é insanamente improvável). Ficava tremendamente intimidade com todo o esquema de solicitações por carta, agentes literários, acordos simultâneos ou de exclusividade, sinopses etc., e aquela altura eu quase desisti. Certamente o que me fez continuar não foi a fé em meu fabuloso talento; acho que era só porque amava tanto meus personagens, e eles eram tão reais para mim, que eu queria que outras pessoas os conhecessem também.
Submeti os originais ao WritersMarket.com e compilei uma lista de pequenas editoras que aceitavam originais não solicitados e algumas agências literárias. Foi por volta dessa época que minha irmã mais nova, Heidi, falou no website de Janet Evanovich. Em sua seção de perguntas e respostas para escritores, Janet E. mencionava a Writers House, entre outras, como o que havia de melhor no mundo das agências literárias. A Writers House foi para minha lista como a mais desejável e também a menos provável.
Mandei umas quinze solicitações (e ainda sinto um aperto no estômago quando passo pela caixa de correio onde coloquei minhas cartas - foi apavorante postá-las). Preciso dizer, para que fique registrado, que minhas solicitações eram verdadeiramente chatas e não culpo ninguém que me mandou uma carta de rejeição (recebi umas sete ou oito delas. Ainda as tenho também). A única rejeição que realmente magoou veio de um pequeno agente que só leu o primeiro capítulo antes de me massacrar. A rejeição mais maldosa chegou depois que a Little, Brown me selecionou para um contrato de três livros, então não me incomodou em nada. Tenho que admitir que pensei em devolver uma cópia dessa recusa grampeada à reportagem sobre meu contrato na Publisher's Weekly, mas fui superior a isso.
Minha guinada veio na forma de uma assistente da Writers House chamada Genevieve. Só muito mais tarde é que fui descobrir a sorte que tive; por acaso, Gen não sabia que 130 mil palavras correspondem a um monte de palavras. Se ela soubesse que 130 mil palavras equivaliam a 500 páginas, provavelmente não teria pedido para ver. Mas ela não sabia (pode me imaginar enxugando o suor da testa) e pediu mesmo os três primeiros capítulos. Fiquei emocionada por obter uma resposta positiva, mas também um pouco preocupada, porque sentia que o início do livro não era a parte mais forte. Mandei pelo correio aqueles três capítulos e recebi uma carta algumas semanas depois (minhas mãos estavam tão fracas de medo que mal conseguia abri-la,). Era uma carta muito gentil. Ela sublinhara duas vezes à caneta a parte em que digitou como havia gostado dos três primeiros capítulos (eu ainda tenho a carta, é claro) e me pedia os originais completos. Foi nesse exato momento que percebi que podia realmente ver Crepúsculo impresso, e foi um dos momentos mais felizes de toda minha vida. Eu gritei muito.
Mais ou menos um mês depois de ter mandado os originais, recebi um telefonema de Jodi Reamer, uma agente literária muito sincera, que queria representar meu livro. Tentei realmente parecer profissional e adulta durante a conversa, mas não tenho certeza de tê-la enganado. Outra vez minha sorte era enorme (e eu não costumo ter sorte - nunca na minha vida ganhei nada, nem mesmo consigo pegar um peixe quando estou no barco) porque Jodi é uma superagente. Eu não podia ter terminado em melhores mãos. Ela é parte advogada, parte ninja (agora está se dedicando para obter a faixa preta, e não estou brincando), uma editora de texto maravilhosa e uma grande amiga.
Jodi e eu trabalhamos por duas semanas para colocar Crepúsculo em forma antes de mandar às editoras. A primeira coisa em que trabalhamos foi o título, que no início eraForks (e eu ainda tinha uma quedinha pelo nome). Depois, aparamos algumas arestas e Jodi mandou o livro a nove editoras diferentes. Isso acabou com minha capacidade de dormir, mas por sorte eu não fiquei em suspense por muito tempo.
Megan Tinley, da Megan Tinley Books, da Little, Brown and Company, leu Crepúsculoenquanto atravessava o país de avião e devolveu a Jodi um dia depois do fim de semana de Ação de Graças com um contrato de direitos autorais tão imenso que eu sinceramente pensei que Jodi estivesse me fazendo de boba - em especial pela parte em que ela rejeitava a oferta da agente e propunha mais. Ao final do dia, o resultado foi terminar tentando processar a informação de que não só meu livro seria publicado por uma das maiores editoras de livros para jovens adultos do país, mas também que eles iam me pagar por isso. Por um bom tempo, fiquei convencida de que era uma pegadinha muito cruel, mas eu não podia imaginar quem chegaria a tal ponto: pregar uma peça em uma dona-de-casa tão insignificante como eu.
E foi assim, ao longo de seis meses, que Crepúsculo foi sonhado, escrito e aceito para publicação.
As coisas ainda estão uma loucura, com o contrato para o cinema e toda a atenção pré-publicação que Crepúsculo continua a receber. Embora de vez em quando eu fique impaciente, estou feliz porque tive os últimos dois anos para tentar me entender com essa situação. Estou muito ansiosa para finalmente ver Crepúsculo nas prateleiras, e também bastante assustada. No geral, foi um verdadeiro trabalho de amor, amor por Edward e Bella e por todos os outros amigos imaginários, e estou emocionada porque agora outras pessoas poderão conhecê-los.
[Reproduzido de StephenieMeyer.com]
Ps: eu estou no Crepúsculo ainda, ou seja o 1º da saga!
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