Isto É / Data: 22/12/2004
Espelho de Adônis
Fartamente ilustrado, a História da beleza mostra como os ideais estéticos evoluíram
LEONARDO da Vinci
Portrait of Cecilia Gallerani (Lady with an Ermine)
1483-90
Oil on wood, 54,8 x 40,3 cm
Czartoryski Museum, Cracow
Luiz Chagas
Nos anos 1960, o nome do escritor e professor italiano Umberto Eco esteve associado ao ensino de semiologia e estética que disseminava em livros como Obra aberta e A estrutura ausente, cartilhas obrigatórias dos nascentes cursos de comunicação. Duas décadas depois, o romance O nome da Rosa, recheado de elucubrações sobre a escrita simbólica, alçou-o à categoria de best-seller devido à trama policialesca nos moldes de um 007 medieval. Apesar do apelo, dada a aridez dos assuntos e o volume de sua prosa, os livros de Eco foram sendo cada vez mais comprados e menos lidos. Caso de O pêndulo de Foucault e Baudolino. Lançado em 2004, o luxuoso História da beleza – organização de Umberto Eco (Record, 440 págs.), com 17 capítulos prefaciados pelo professor da Universidade de Bolonha, nove escritos por ele e o restante por Girolamo de Michelle, não é o tipo de livro que ficará confinado às estantes. O tom professoral, porém simpático, aliado à profusão de ilustrações, que vão de figuras pré-históricas às cobiçadas imagens dos calendários da Pirelli, lhe garante um lugar na mesa da sala.
Eco abre sua obra com quadros comparativos, a exemplo do que fizera o artista plástico inglês radicado nos Estados Unidos David Hockney, em O conhecimento secreto. Enquanto este procura provar que a evolução da pintura está ligada aos avanços tecnológicos, Eco demonstra como as diferentes concepções de beleza evoluem e se repetem em diferentes épocas, nas mais diversas áreas e regiões. Nos 11 quadros explica-se, por exemplo, a mudança da visão que se tem do homem e da mulher nos mitos lendários Vênus e Adônis – representados nus ou vestidos, com seus rostos e cabeleira detalhados – aos mitos da comunicação, como Monica Bellucci e Arnold Schwarzenegger. Da mesma forma registra as variações observadas nas imagens do rei e da rainha, do busto do faraó Aquenaton, do século IV a.C., a John Kennedy ou Giovanni Agnelli, e de Nefertite a Lady Di. Assim como as representações de Nossa Senhora e Jesus Cristo, do mosaico A natividade, anônimo do século XII, a uma foto recente da cantora Madonna, e das figuras pintadas nas igrejas ao rosto ensanguentado de Jim Caviezel no filme de Mel Gibson.
Os textos, abertos pelo capítulo O ideal estético da Grécia Antiga e encerrados por A beleza da mídia, são pontuados por trechos de obras célebres de filósofos e estetas de todas as eras, referências que “conversam” entre si e com as obras reproduzidas. Diante do leitor desfilam Eurípedes, Jagger, Picasso, Kant, Warhol, Nietzsche, Marilyn, Kafka, Barthes, Brando, Rimbaud, Garbo ou Shakespeare. Umberto Eco apela para sua aparentemente inesgotável erudição para tecer este magnífico exemplar.
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