segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Os Pets dos Faraós




























A cientista começou mumificando coelhos. Eles têm um bom tamanho para se manipular e podem ser encontrados no açougue. "Em vez de fazer guizado de coelho, eu dei a vida eterna", brinca ela. O coelhinho Flopsy - Salima batizou suas múmias - foi enterrado inteiro no natrão. O corpo não durou dois dias. Gases se formaram dentro dele, e o bichinho explodiu. O coelho Tambor teve melhor sorte. Seus pulmões, fígado, estômago e intestinos foram removidos. Depois, ele foi recheado com natrão e enterrado na mesma substância.

Fofinha, a próxima candidata, ajudou a resolver uma charada arqueológica. O natrão com que foi recheada absorveu tanto fluido corporal que a coelha ficou visguenta, malcheirosa, repelente. Salima removeu o natrão encharcado e o substituiu por saquinhos de linho cheios de natrão fresco. Assim, ficava mais fácil remover o recheio quando ele estivesse encharcado, o que explicava a razão de se ter encontrado saquinhos similares em redutos de embalsamadores.

Pedro Coelho sofreu um tratamento diferente. Em vez de evisceração, foi-lhe aplicado um clister de aguarrás e óleo de cedro antes de ser colocado no natrão. Heródoto, o famoso historiador grego, escreveu sobre tal procedimento no século 5 a.C., mas os estudiosos sempre discutiram o quanto isso era confiável. Neste caso, o experimento provou que ele estava certo. As entranhas de Pedro Coelho se dissolveram, exceto o coração - único órgão que os antigos egípcios sempre deixavam no lugar.

Como os animais mumificados há mais de 3 mil anos, os bichos de Salima Ikram entraram felizes à posteridade. Uma vez realizado o trabalho laboratorial, ela e seus alunos seguiram o antigo protocolo dos embalsamadores e envolveram todos os corpos em bandagens estampadas com palavras mágicas. Recitando orações e queimando incenso, eles depositaram as múmias no armário de uma sala de aula, onde atraíram visitantes - inclusive eu. Deixei ali minhas oferendas, desenhos de cenouras e símbolos que os antigos usavam para multiplicar por mil os presentes desenhados. Salima Ikram me assegura que as imagens se tornam reais no outro mundo, e que seus coelhinhos estão agora muito alegres repuxando seus focinhos.

fonte: NAT GEO

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