quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Rubor
Em uma espécie com a reputação de manipular outras para aumentar o seu ganho pessoal, ficar com as bochechas vermelhas é algo bem difícil de explicar. Por que os humanos iriam deixar evoluir uma resposta que nos deixa numa desvantagem social, por nos forçar a estampar no rosto uma vergonha, mentira ou traição?
É uma questão com a qual Darwin se debateu. Ele notou que gente de todas as raças fica ruborizada, mas os outros animais - inclusive primatas -, não. Na hora de explicar a evolução disso, se viu perdido. Mas isso não desestimulou outros estudiosos. Uma hipótese é que o rubor apareceu como ritual de apaziguamento: uma maneira de mostrar para os membros dominantes que nos submetemos à autoridade deles. Talvez mais tarde, quando as interações sociais se tornaram mais complexas, essa característica ficou associada a emoções mais sofisticadas, como culpa ou embaraço.
Além disso, o rubor pode tornar uma pessoa mais atraente ou socialmente desejável. Ao constatar que as mulheres ficam mais, digamos, rosinhas que os homens, o neurocientista V.S. Ramachandran, da Universidade da Califórnia, sugere que o rubor deve ter evoluído como uma maneira de a mulher mostrar a sua honestidade ao homem, de modo que o encorajasse a ajudar na criação dos filhos. "O rubor está dizendo que eu não vou colocar chifres em você. Se você me perguntar sobre infidelidade, eu não posso mentir, pois as minhas bochechas irão me entregar", diz ele.
O primatologista Frans de Waal, da Universidade Emory, em Atlanta, também acredita que o rubor é um meio de promover a confiança. "Se você fosse caçar com um parceiro inexpressivo, não saberia se dá para confiar nele." Desde que a vermelhidão ficou associada ao embaraço, quem não fica ruborizado pode estar em desvantagem, pois nossa tendência é não acreditar em quem nunca fica envergonhado.
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